Quando a língua muda de cor, atenção, há problemas no corpo

A saúde oral depende das escolhas e de cuidados a ter ao longo da vida

É um dos sintomas mais comuns, muitas vezes ignorado, que pode ser bastante prejudicial, não só para a saúde oral, como para o bem-estar em geral. E há outras situações complicadas, como as aftas e a candidíase oral, por exemplo.

A língua, mais curta ou mais comprida, mais fina ou mais grossa, mais afiada ou mais expandida, seja como for, é um órgão importante para garantir o bom funcionamento do corpo. E não tem apenas uma função, é responsável pela fala, pelo paladar, ajuda a mastigar. As suas mais de dez mil papilas gustativas diferenciam sabores, ora doces, ora salgados, ora amargos. No entanto, tal como outros órgãos, não está imune ao aparecimento de determinadas patologias. Há alterações que exigem atenção porque a língua é, afinal, um canal propício ao aparecimento de determinadas doenças, caso não seja devidamente cuidada. Atenção, portanto, muita atenção.

Susana Barrote, higienista oral na Malo Clinic de Lisboa, alerta para as alterações que surgem na língua e são identificadas pela mudança de cor. Diferentes cores podem estar associadas a diferentes problemas. “A língua vermelha pode ser sinal de aumento da temperatura corporal, sintoma de infeção ou falta de vitamina B3. A língua branca pode ser devido a uma incorreta higienização, sinal de que o sistema imunitário pode estar enfraquecido ou falta de vitamina B12”, revela.

Há mais cores, há mais sinais. “A língua amarela pode não ser indício de nenhuma complicação, mas sim o resultado de uma má higiene oral provocada por hábitos como fumar ou beber café. A língua roxa pode estar associada a má circulação ou falta de vitamina B2”, adianta. “Por fim, a língua negra pode surgir em alguns casos devido ao crescimento excessivo das papilas gustativas e, consequentemente, à acumulação de bactérias e células mortas que acabam por escurecer ao longo do tempo”, acrescenta a higienista oral.

Língua vermelha pode ser sinal de aumento da temperatura corporal, sintoma de infeção ou falta de vitamina B3

Há outras alterações que podem surgir e ser visíveis na superfície da língua, a glossite migratória benigna ou língua geográfica que, explica Susana Barrote, “se caracteriza pelo aparecimento de manchas de cor avermelhada com contornos esbranquiçados, variando na forma, tamanho e localização”. Há também a língua fissurada, com fissuras profundas com diferentes tamanhos, associada, em muitos casos, à língua geográfica. “Ambas de causa desconhecida, normalmente sem sintomas, que pela sua benignidade em geral não requerem tratamento. No entanto, pode surgir desconforto quando ingeridos alimentos ácidos e comidas mais condimentadas”, observa.

E as aftas, claro, que causam dor, desconforto na ingestão de alimentos e até dificuldade em falar. Como é que surgem na língua? “Geralmente quando são consumidos alimentos ácidos, mas também por traumatismo (por exemplo mordidas acidentais), stress, reações a medicamentos, sistema imunitário debilitado, algumas doenças ou carência de vitaminas e minerais, que tornam a saúde oral mais vulnerável”, refere.

A língua roxa pode estar associada a má circulação ou falta de vitamina B2

Há ainda situações complexas que convém não esquecer e que exigem muita atenção, bastante cuidado. Como a candidíase oral que leva ao aparecimento de placas esbranquiçadas na língua e noutras partes da boca, sendo mais comum em pessoas com baixa imunidade. Como o pênfigo vulgar, doença autoimune provocada por uma reação exagerada das células de defesa do corpo e que se caracteriza pela presença de bolhas dolorosas na língua. “E o cancro na língua, a segunda localização mais frequente dos tumores na cavidade oral, sendo os hábitos tabágicos e o consumo de bebidas alcoólicas os fatores de maior risco que potenciam o seu desenvolvimento.”

Por tudo isso, não há como facilitar. A língua precisa de higienização. Por várias razões, além do hálito fresco. “De forma a eliminar as bactérias que podem ficar retidas na sua superfície e que contribuem para o aparecimento de desequilíbrios na saúde oral e na saúde em geral”, especifica Susana Barrote.

Recomenda-se a limpeza com o raspador de língua ou com a escova de dentes, mantendo os cuidados de higiene oral diários de escovagem e uso de fio dentário. E, como se sabe, é importante estar atento a qualquer sintoma e ir a consultas regulares no higienista oral ou médico dentista.