Os altos e baixos do nariz não são apenas uma questão estética

Juliana Almeida, enfermeira, tinha cefaleias agudas por causa de um problema no septo nasal. Optou pela técnica inovadora que lhe trouxe bem-estar e devolveu qualidade de vida (Foto: DR)

Miguel Gonçalves Ferreira, médico otorrinolaringologista, desenvolveu uma técnica cirúrgica inovadora, premiada e aplicada pelo Mundo. Precisa, eficaz, rápida, pouco agressiva, menos invasiva. Sem enxertos e sem retalhos.

Imagine-se uma árvore dentro de casa que cresce, cresce, e vai empurrando o teto para aumentar ainda mais de tamanho. Quando já não consegue, e o teto não sai do seu lugar, a árvore entorta. Tal como o nariz que chega ao seu teto e fica torto, com um desvio. A imagem é de Miguel Gonçalves Ferreira, otorrinolaringologista diferenciado em Cirurgia Plástica e Facial, responsável pela consulta de Rinoplastia e Cirurgia Facial do Centro Hospitalar Universitário do Porto (Hospital de Santo António), para explicar o que acontece ao nariz quando cresce sobretudo depois da adolescência, bem como as deformidades da pirâmide nasal que tem operado com um método que não passa despercebido no Mundo. Foi capa da conceituada revista norte-americana “The Laryngoscope” em dezembro de 2019 e novamente em junho deste ano na “Facial Plastic Surgery and Aesthetic Medicine”, publicação oficial da Academia Americana de Cirurgia Plástica Facial e Reconstrutiva, da Academia Europeia de Cirurgia Plástica Facial e da Federação Internacional das Sociedades de Cirurgia Plástica Facial. Duas capas sobre a técnica que se tem revelado como a mais versátil de rinoplastia de preservação com múltiplas aplicações e que vai sendo refinada e apurada.

Cirurgia desenvolvida pelo médico português foi capa da conceituada revista “The Laryngoscope”, em dezembro de 2019

O novo método de rinoplastia, com visibilidade planetária, de seu nome Spare Roof Tecnique (SRT), tem três variantes que lhe dão maior versatilidade perante diferentes deformidades como a bossa nasal, aquele alto, e a sela nasal, aquele baixo. Não se trata apenas de uma questão estética, é também uma questão de saúde. Nariz torto, dificuldades em respirar, doenças associadas, rinites e sinusites, dores de cabeça, e problemas com autoestima, com o que se vê ao espelho.

Juliana Almeida tinha cefaleias intensas e não sabia a origem dessas dores de cabeça. Na pandemia, percebeu que tinha um desvio no septo nasal, já que a zaragatoa não descia pelo nariz como devia. Decidiu escutar várias opiniões. “Diagnosticaram-me sinusite associada e a origem das cefaleias seria então essa”, lembra a enfermeira de 25 anos. Não tardou a pesquisar o que seria melhor para a sua saúde e não só.

Cirurgia também foi capa da “Facial Plastic Surgery and Aesthetic Medicine”, a publicação oficial das Academias europeia e americana de Cirurgia Plástica Facial e Reconstrutiva, em junho deste ano

“Como não estava totalmente satisfeita com o meu nariz, e inclusive já tinha sofrido bullying por causa disso, quando era mais nova , achei que se teria de fazer a cirurgia devido à parte funcional, e para ter qualidade de vida, poderia aliar a isso uma rinoplastia”, conta. Assim sentir-se-ia melhor, tanto física como psicologicamente. A busca continuou. Como enfermeira, procurou um otorrinolaringologista que tivesse especialidade na parte estética e chegou ao médico Miguel Gonçalves Ferreira. “Pesquisei pela técnica dele que é inovadora, muito menos agressiva que outras técnicas convencionais e observei os resultados do seu trabalho que me surpreenderam bastante pelo facto de serem tão naturais”, revela Juliana Almeida.

Miguel Gonçalves Ferreira anda concentrado na técnica desde 2014, tema do seu projeto de doutoramento em Ciências Médicas, que permite preservar estruturas nasais importantes, como as cartilagens laterais superiores. “O que é revolucionário é operar por dentro e por baixo da bossa, não tendo de dissecar o dorso”, observa. O terço superior do nariz, junto aos olhos, é a parte óssea. Quando é mais alto do que o normal é a bossa nasal – e a ciência sustenta que cerca de 70% dos narizes caucasianos têm uma bossa ligeira. Trata-se da estrutura mais crítica do nariz, na zona de transição entre o osso e a cartilagem.

O otorrino Miguel Gonçalves Ferreira já esteve em mais de 200 locais do Mundo a partilhar o seu conhecimento
(Foto: Rui Oliveira/Global Imagens)

Com a SRT, não há enxertos, nem retalhosque, com o passar dos anos, acabam por se mostrar com as suas irregularidades. Corta-se por baixo do teto nasal e remove-se a parte cartilaginosa. Técnica de preservação de superfície aplicada em três passos, ou seja, baixa-se o nariz, aplana-se para o tornar reto, e dá-se um refinamento final. Sem o risco de o nariz colapsar, isto é, cair para dentro.

Manter o teto nasal original

Juliana Almeida não receou colocar o seu nariz nas mãos de uma técnica inovadora. Bem pelo contrário. “Fiquei muito mais segura porque sabia que era menos invasiva”, garante. O que temia, até pelo que via e lia de trabalhos com outras técnicas, era o pós-operatório. Correu bem, fez tudo como deve ser depois da cirurgia. “Cumpri todas as indicações dadas relativamente à medicação, pomadas e lavagens para que a remoção dos tamponamentos na primeira consulta pós-operatória fosse o menos dolorosa possível”, recorda.

E assim foi. “Não tive qualquer hemorragia nem hematomas, o que acredito que tenha sido devido, maioritariamente, à técnica inovadora e também a todos os cuidados associados.” As expectativas após a operação foram ultrapassadas. “Ficou melhor do que aquilo que esperava e com um aspeto muito natural”, confessa Juliana Almeida.

O médico otorrino foi afinando a sua técnica, com engenho e arte e alguma criatividade da sua parte, admite, para preservar a parte óssea que é fraturada por baixo nos narizes em sela com o teto baixo – semelhante à sela de um cavalo – e que pode ser resultado de cirurgias anteriores, doenças sistémicas ou traumatismos nasais. “A cirurgia tradicional abria a parte cartilaginosa e partia o osso em cima”, lembra o médico. A rinoplastia de preservação reestrutura o nariz e mantém o teto nasal original. Ou seja, explica, “todo o trabalho para modelar o dorso nasal é efetuado por baixo do dorso, sem necessidade de dissecação do dorso e com a inovadora osteotomia subdorsal.” O que acontece é que esta osteotomia permite efetuar uma fratura transversal, mas por via endonasal. Corrigir o nariz, mantendo a suavidade de um dorso natural.

(Foto: DR)

A possibilidade de operar um nariz e terminar com um dorso uniformemente liso e estruturalmente estável tem despertado a atenção da comunidade científica mundial. Uma técnica mais precisa, eficaz, rápida e menos agressiva. Miguel Gonçalves Ferreira anda pelo Mundo, já esteve em mais de 200 sítios, a partilhar conhecimento e a ensinar a técnica inovadora que já é aplicada nos Estados Unidos, Brasil, México, Espanha, África do Sul, Noruega, entre outros países.

Para chegar até aqui foi necessário muito trabalho, horas, meses, anos, muitos estudos anatómicos, cálculos de engenharia, análise a resultados estéticos e funcionais, inúmeros ensaios em cadáveres, uma colaboração com o departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Minho, até mesmo a descoberta de dois pontos anatómicos nunca antes referenciados. A segunda distinção da revista científica é, em seu entender, “um reconhecimento”.

(Foto: DR)

Na rinoplastia de preservação de superfície para corrigir a bossa nasal foi feito um estudo prospetivo que envolveu 100 doentes submetidos a essa intervenção: 67 mulheres, 33 homens, média de idades de 32,8 anos. Os pacientes avaliaram o seu nariz em três momentos: antes da cirurgia, após três meses e um ano depois. A funcionalidade e a estética foram aspetos a ter em consideração. Numa escala de 0 a 10, os resultados mostraram uma média de 8.4, bem acima dos 3.4 obtidos em estudos semelhantes.

Juliana Almeida, por seu turno, agradece o resultado e ter resolvido as maçadoras e incómodas cefaleias. “Esta cirurgia melhorou a minha vida, no sentido em que a minha qualidade de vida aumentou drasticamente devido à septoplastia realizada e aumentou a minha autoestima, tornando-me uma pessoa mais confiante”, comenta. “Valeu a pena.”