Olivier Afonso fez uma banda desenhada sobre os emigrantes

Olivier Afonso é maquilhador em França

Quis preservar para as gerações futuras os relatos orais que dão conta do sacrifício e esperança de um povo que procurou uma vida melhor além fronteiras. Livro foi publicado em francês e edição em português sai em outubro.

“A vida anda muito depressa e tinha medo de me esquecer de todas estas histórias, o que era uma pena”. Quem o diz é Olivier Afonso, para explicar como surgiu “Les Portugais”, a Banda Desenhada que escreveu para que a “aventura” dos portugueses para singrar em França não se perdesse no tempo.

Não é a história dos pais, um carpinteiro e uma funcionária de uma empresa de embalagens de cartão que, na década de 1970, partiram de Monção e Felgueiras para os arredores de Paris, tendo começado por viver em barracas. É a história “geral, de muita gente” que lhe serviu de inspiração.

Os relatos eram “transmitidos oralmente” e em pequeno, Olivier, que hoje trata de maquilhagem e efeitos especiais no cinema, ouviu muitos, alguns partilhados até com “pudor”, pelos sacrifícios que evidenciavam. “Queria que os meus filhos ouvissem estas histórias e achei que era importante escrever sobre este período, haver uma banda desenhada de memória”.

A história foi inicialmente escrita para servir como guião para um filme, mas o projeto não avançou por falta de “dinheiro e gente interessada”. Olivier não desistiu e, como queria que fosse algo impactante, convidou Aurélien Ottenwaelter para fazer as ilustrações da banda desenhada. “É importante que seja visual, para as pessoas perceberem a história mesmo que não dominem a língua”, pois “os desenhos falam”, explica Olivier.

A obra “Les Portugais” foi lançada em fevereiro, em francês e, em outubro, surgirá a versão em português. Planeia-se também uma edição em espanhol. Estranho? Talvez não, se pensarmos que outros povos se podem rever nas dificuldades. “Encontrei gente espanhola, italiana, polacos, que me diziam que a história era a mesma dos seus familiares. Esta memória é universal, a de quem imigrou para encontrar uma vida melhor”.

Qualquer que seja a língua, a mensagem principal é de esperança. “A vida é complicada, mas se tivermos esperança, podemos vir a viver coisas lindas. A vida é uma aventura extraordinária”, defende quem herdou da família a capacidade de lutar pelos sonhos e não desistiu enquanto não alcançou o mundo das artes, que o fascina desde criança.

O périplo de emoções que é “Les Portugais” finaliza com uma cena pessoal: a escolha do seu nome. Os pais pretendiam inicialmente registá-lo com um nome português que homenageasse uma avó, mas uma enfermeira aconselhou que fosse “Olivier”, que era parecido mas francês e, por isso, facilitaria a integração.

A decisão não terá sido fácil, ao colocar em oposição o desejo de que o filho tivesse “todas as oportunidades” no novo país e, ao mesmo tempo, que fossem preservadas as raízes, que o passado não se apagasse. “Se eu não tenho um nome português, o que é que vai ficar do país?”. Ficaram as histórias. “E isso é o mais importante”.

 

Olivier Afonso
Localização:
Vauréal, França 49°02’08.9”N 2°01’56.4”E (GMT +2)
Cargo: maquilhador
Idade: 47 anos