Bruno Pereira, o polícia poeta que adora o caos

Bruno Pereira é presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia e porta-voz da Plataforma de Sindicatos da PSP e Associações da GNR

Já publicou um livro. É fã de cinema e teatro. Gosta de participar em tertúlias e de viajar. O mediatismo fez dele o rosto dos profissionais da PSP e da GNR. Não disse que não, a vida jamais voltou a ser a mesma.

A não atribuição de subsídio de risco aos agentes da PSP e militares da GNR foi o rastilho que colocou milhares de profissionais de segurança pública nas ruas, em protestos que duram desde o início do ano, de forma quase ininterrupta. E que fez sobressair o nome de Bruno Pereira, porta-voz da Plataforma de Sindicatos da PSP e Associações da GNR.

“A luta veio-me parar ao colo e agarrei-a com alma e coração”, resume à NM este serrano de Paul, no concelho da Covilhã, terra que abandonou rumo a Lisboa para cumprir o sonho de menino de ser polícia, que preferiu à ambição inicial de se fazer médico. Tirou a licenciatura no Instituto de Ciências Policiais e Segurança Interna e quando a terminou vestiu a farda pela primeira vez na Divisão Policial de Sintra, em 2008. Por lá ficou oito anos, até 2016, quando foi promovido a comissário e foi transferido para Lisboa. De lá saltou para Loures e Odivelas para, em 2019, regressar à capital como chefe de operações na Divisão Criminal e, posteriormente, como segundo comandante.

Ajudou a coordenar operações de segurança em eventos como o Rock in Rio, a Web Summit ou a Conferência dos Oceanos, além da Jornada Mundial da Juventude, onde teve um encontro especial. “Tive a oportunidade de conhecer o Papa Francisco”, orgulha-se. Colaborou ainda com a Europol, como analista internacional no controlo de migrantes na costa de Itália.

Pelo meio, inscreveu-se no Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia, cuja direção passou a liderar em julho do ano passado. “É minha firme convicção que podemos fazer a diferença na vida das instituições”, acredita.

Quando PSP e GNR se uniram em torno de uma causa comum e se tornou o porta-voz de milhares de colegas, a vida trocou-lhe as voltas. Não se importou. “Gosto de viver no caos, de assumir múltiplos compromissos”, admite. “Tenho muito menos tempo para mim mesmo e para as pessoas próximas, mas continuarei a defender acerrimamente e durante o tempo necessário os agentes e militares, que têm vindo a ser destratados pelo Governo”, assegura.

Ainda assim, continua a frequentar as aulas do curso de Direito na Universidade de Lisboa que se dispôs a concluir para acrescentar mais conhecimento académico ao mestrado em Ciências Jurídico-Criminais, conseguido na mesma instituição. E a praticar desporto, “não tantas vezes como gostaria”, ou a ir ao cinema – “que adoro” -, quando a agenda lhe permite fugazes horas de descanso. Deixou praticamente de lado o teatro e as tertúlias. Também abandonou temporariamente a escrita, sobretudo a poesia. “Gosto particularmente de escrever e nestas últimas semanas não tenho tido tempo para me dedicar a ela.”

Uma paixão tão forte que se traduziu na edição de um livro de poemas intitulado “Fragmentos da madrugada”, publicado em outubro de 2022 e em cuja sinopse é explicado que se trata de uma obra que reproduz a confluência de duas coisas que o definem intimamente: “O meu gosto literário e a possibilidade de emaranhar palavras e poder corporizar nelas as minhas emoções, as minhas vivências, as minhas atitudes”, em textos que são “puras retratações de estados de alma ou de visões pessoais sobre temas da atualidade, comportamentos sociais ou meros ângulos pessoais acerca de temas e dialéticas da vida”.

O que Bruno Pereira não dispensa, independentemente da agitação da luta, são as idas à serra da Estrela para visitar os pais. “Costumo dizer que se o presidente dos Estados Unidos consegue ter tempo para a família, eu também tenho que ter”, afirma. Viajar, dantes também não dispensava, ficou para segundo plano. “Adorei Roma, porque tenho um fascínio enorme por tudo o que tem a ver com o tempo dos romanos, e Praga. Sonho fazer o Transiberiano”, confidencia. “Mas o que gostava mesmo era de poder tocar todos os cantos do Mundo”, sonha.

Enquanto tal não acontece, vai dando a cara pelas reivindicações dos colegas. “O caminho afigura-se de tal forma negro que se não prosseguirmos a nossa intervenção dificilmente teremos retorno. Por isso, não podemos parar”, promete.

Cargo:
presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia e porta-voz da Plataforma de Sindicatos da PSP e Associações da GNR
Nascimento: 19/08/1985 (38 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Paul, Covilhã)