Leitão & Irmão: o percurso familiar que até teve joalheiros da coroa

Jorge Leitão é o atual proprietária da empresa bicentenária (Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Nascida no Porto e desenvolvida na capital, a Leitão & Irmão celebra o bicentenário nas mãos da família original. Mais do que ouro e prata, a mais-valia da empresa "são as pessoas", garante o atual proprietário.

Foi ainda na casa dos 20 anos que Jorge Leitão reergueu a marca de família. Adquiriu as oficinas que tinham sido vendidas e garantiu que a Leitão & Irmão continuava nas mãos em que está há já 200 anos. Hoje, Jorge Leitão – ou “sr. Leitão”, como é carinhosamente tratado nos corredores das oficinas e nas lojas -, filho único, tem 64 anos, quatro filhos e cinco netos. Uma grande família para garantir a sobrevivência da marca bicentenária. “Quantidade há, falta confirmar a qualidade”, mostra-se cauteloso o proprietário. Mas já lá vamos.

Recuemos a março de 1822. José Pinto Leitão, trisavô de Jorge Leitão, submetia-se ao exame de ourives, ao qual passou com distinção. Era o culminar de mais de dez anos de aprendizagem e, por isso, o atual Leitão à frente da marca afirma que “a casa começou, pelo menos, uma dezena de anos antes da data oficial”.

José Pinto Leitão era natural da Beira Alta e foi aprendiz no Porto. Estabeleceu-se em terras portuenses e por lá ficou até à sua morte. Já os filhos, junto com a atribuição do título de Joalheiros da Coroa Portuguesa, dada pelo rei Luís I, em 1887, rumaram à capital, mantendo a loja do Porto durante apenas mais 20 anos. Por isso hoje, voltar ao norte é uma ambição “natural”, garante o empresário.

Apesar de ser uma profissão de aprendizagem demorada, o proprietário destaca também a inovação
(Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Dos sete filhos, foram os rapazes que ficaram responsáveis pelo nome Leitão & Irmão. José, Narciso e Olindo. Jorge Leitão sabe os nomes de cor, não por obsessão com a memória ou com a história mas porque, conta entre risos, o humor é algo característico dos Leitão. “O meu trisavô deu os nomes aos filhos por ordem alfabética.”

Família de longevidade

Jorge Leitão nunca conheceu o trisavô, nem sequer o avô ou o tio. “Os Leitão vivem muitos anos e têm filhos muito tardios.” Já nisso eram modernos, brinca. Do tio-avô José, a empresa passou para o avô Narciso, mais tarde para o tio e, por fim, para o pai, Manuel – que ficou no leme até pouco depois do 25 de Abril. Com as dificuldades no pós-revolução, as oficinas foram vendidas a uma marca da mesma área, que manteve as lojas com o nome Leitão & Irmão. Mas Jorge, orgulhoso da história da empresa, quis, no início dos anos 1980, recuperar as oficinas, voltando a adquiri-las a quem as tinha comprado. Começava a sua era.

Mas voltemos à infância. As memórias de entrar na loja são muitas e enchem-no de orgulho, tanto agora como à época. “Achava tudo pomposo e bonito e ficava contente por aquilo ser da minha família.” Mas a grande paixão de Jorge era o que estava do lado de lá do balcão: a manufatura. “Cresci encantado com as oficinas, com as máquinas, com a criação das peças”, relembra.

(Foto: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

E foi o fascínio desde tenra idade que o fez aprender um pouco de cada tarefa da empresa. Não queria apenas estar no lado dos papéis. “Sei fazer tudo sem grande profundidade, tirando a fundição, isso aprendi com grande cuidado.”

Casa de aprendizagem

Entre as paredes da Leitão & Irmão, e na boca dos mesmos funcionários, passou de menino Jorginho, para menino Jorge e, depois, para sr. Leitão. São muitos os funcionários da joalheira que recorda como família, mas em especial um. O sr. Paulino. Trabalhou na casa até aos 98 anos. “Nos últimos 20 anos já não trabalhava efetivamente, mas estava sempre lá, a passar o seu conhecimento.”

(Foto: DR)

Apesar de ser uma profissão de aprendizagem demorada, o proprietário destaca também a inovação. “Termos pessoas novas é importante para atualizarmos conhecimento.” Hoje, a casa Leitão tem pouco mais de 20 artesãos, três deles são jovens recém-chegados. E entre eles a novidade: uma rapariga. Os tempos estão a mudar para melhor, assegura Jorge Leitão.

(Foto: DR)

E por falar em futuro, o proprietário que pouco arrisca em previsões, diz ter apenas uma certeza: a grande aposta é a loja digital, “uma montra para o Mundo”. “Se os meus filhos ou os meus netos vão continuar com esta vertente ou até com a marca, não sei. Eles querem, mas vontade só não chega, é preciso ter capacidade.” Para já, Jorge Leitão quer falar do presente e o certo, afirma, é que continuará pela empresa enquanto a vida deixar.

(Foto: DR)

Contudo, apesar de não se querer comprometer em adivinhar o que virá, o empresário supõe que a receita para o sucesso no futuro será a mesma que tem sido usada até hoje: ser “resiliente, vertical e humano”. “As pessoas, quer sejam os que trabalham para nós, ou aqueles para quem nós trabalhamos, são sempre o mais importante. Não o ouro e a prata.”

(Foto: DR)

Nome: Leitão & Irmão
Atividade: Joalharia
Data fundação: 1822
Morada: Largo do Chiado, 16, Lisboa
Número funcionários: 50