Edgar Mosa, o artista que navega na joalharia de nicho

A entrevista a Edgar Mosa foi realizada através de videochamada por Google Meet

Edgar Mosa mora em Nova Iorque há mais de dez anos. Foi lá que o lisboeta viu a sua marca de joias ganhar forma e que abriu portas a outras artes.

Edgar Mosa está em Paris, manga cava, língua formatada em inglês. Viajou para a capital francesa em outubro para criar, com o marido e parceiro de trabalho, Joe McShea, uma instalação artística de bandeiras coloridas que deu palco aos desfiles da casa de luxo espanhola Loewe na Semana da Moda de Paris. Uma oportunidade única que o fez saltar para as luzes da ribalta e lhe virou a vida do avesso. Há de voltar no final do mês a Nova Iorque, onde mora há mais de dez anos. É português, joalheiro – e tanto mais, escultor, designer -, nascido e criado em Lisboa, com sangue de artista acelerado a correr-lhe nas veias.

É preciso recuar à adolescência para lhe descobrir o fascínio pela joalharia. Aos 14 anos, depois de espreitar um estúdio de joalharia, “com martelos e fogo”, na Escola António Arroio, decidia o futuro e os estudos. Começou ali mesmo um percurso que nunca mais largaria. “Para uma decisão feita no momento, acabei por seguir até ao fim. A minha ideia sempre foi seguir Belas-Artes, fazer trabalhos de maiores dimensões, mas a joalharia é tão diversa.”

E o corrupio anunciava-se. Da António Arroio seguiu-se a licenciatura em joalharia em Amesterdão. Logo depois, uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian levou-o até à Academia de Arte Cranbrook, em Detroit, nos Estados Unidos, para o mestrado em Belas-Artes. Daí para Nova Iorque foi um salto, onde começou a criar coleções de joias que traduziam o mundo da moda e da arte que pulsa na cidade que nunca dorme e assumiu uma vertente muito mais comercial do que a conceptual que até então vinha a explorar. “São peças que podem ser usadas por mim e pelas pessoas à minha volta, posso vê-las a ganhar vida. Sou muito influenciado pelo sítio onde estou quando crio. Sempre me vi como um pássaro que junta tudo o que tem ao redor para criar ninho. Se tivesse ficado em Portugal, a minha joalharia seria completamente diferente.” Nova Iorque entranhou-se, nos materiais, na forma. Anos e anos a trabalhar no duro para outras marcas, a dar workshops, colaborações sem-fim. Valeria a pena.

As peças que adornam o corpo foram aumentando de tamanho, agora o português divide-se entre a joalharia e a escultura e tem a própria marca: Edgar Mosa. “São os norte-americanos os maiores compradores. E sendo um homem gay e artista, as minhas peças vivem sobretudo na comunidade gay e artística.”

Pelo meio casou – o marido é fotógrafo e artista digital – e juntaram trapinhos também nas artes ao lançarem a “Joe & Edgar”. “Conhecemo-nos há sete anos, desde aí que temos trabalhado juntos. Mas só agora, com esta oportunidade incrível com a Loewe, é que percebemos que isto tem potencial.” Percebeu mais do que isso: cresceu fixado nas joias e quer explorar outros campos.

Nem por isso larga o sonho de miúdo. Desde o início da pandemia que a mesa de jantar e a sala de casa passaram a ser o estúdio. Uma liberdade que lhe permitiu passar esta temporada na Europa. E sonhos? “Há dois anos, decidi que quero ser artista em primeiro lugar. E a única forma de isso acontecer é manter o negócio pequeno, uma joalharia de nicho, para manter a ligação pessoal com o cliente e poder criar peças baseadas em cada pessoa, usar o corpo como tela.”

EDGAR MOSA
Localização: Nova Iorque, EUA 40°42’51” N 74°00’21”″O (GMT -5)
Profissão: joalheiro e escultor
Idade: 36 anos