Projeto de cooperação nascido do gosto pela matemática levou-o até ao continente africano, onde ajudou a fundar a Osuwela, uma ONG que promove o conhecimento. Ali aprendeu a não dar nada como garantido.
Para António Batel Anjo, que aos 57 anos conta no currículo diversos projetos dedicados ao ensino das ciências, a educação é um “elevador” que pode melhorar a vida das pessoas. Ainda para mais num país como Moçambique, no qual se fixou de forma permanente após anos de cooperação.
O antigo professor de matemática da Universidade de Aveiro cedo reconheceu que aquela ciência exata lhe dava “ferramentas” para “resolver problemas e criar coisas”. E, numa tentativa de passar esse gosto aos mais jovens, cofundou, no final do século passado, os jogos PmatE. Numa altura em que os computadores e a robótica davam ainda passos tímidos, a ideia era “entusiasmar os jovens e apresentar-lhes a matemática de outra forma, em estilo de jogo”.
O projeto cresceu, sofreu alterações e até extravasou fronteiras. Em Moçambique, através da plataforma de cooperação Pensas@moz, as ciências chegaram a milhares de alunos e professores. Contudo, em 2014, o financiamento dos organismos portugueses cessou e foi necessário procurar alternativas. Afinal, havia “um património enorme e uma série de docentes que ficaram sem apoio”, relembra.
É assim que, do seu esforço e do de vários moçambicanos, nasce a Osuwela, uma ONG ligada às ciências que fomenta o pensamento crítico, cria conteúdos para a EducaTV, projetos na área da robótica e muito mais, graças a verbas que vai conquistando junto de diversas empresas e países.
Em 2020, Batel Anjo, que durante anos se repartiu entre Portugal e Moçambique (neste país africano chegou mesmo a assessorar três ministros da Educação), optou definitivamente por Moçambique. Agora assume funções como diretor executivo da Osuwela (em língua MaKua quer dizer conhecimento) e leciona no Instituto Superior de Ciências e Tecnologias de Moçambique. De permeio, dá uma mão em ações que reforçam as pontes entre os dois países, como o projeto DOPPLER, na área da radioastronomia.
O ensino, considera o professor, “é a essência do desenvolvimento. Essa é a nossa batalha todos os dias”. A educação, acrescenta, pode servir de “elevador social” e permitir às pessoas “ter uma vida melhor”.
Mas “os desafios são muitos”. Moçambique “é um país que nos ensina de uma forma muito forte, muito bruta, que o que às vezes tomamos por garantido, como a água, eletricidade, computadores, rede de telemóvel, não o é. E isso obriga-nos a olhar o Mundo de outra maneira”, explica.
Batel Anjo, que já tem dupla nacionalidade, está a fazer um segundo doutoramento, desta vez em Estudos Africanos, em Lisboa. Quer “entender melhor as questões das políticas públicas em África e como podem contribuir para alavancar o desenvolvimento”. Esta é uma equação ainda com muitas incógnitas.
António Batel Anjo
Localização: Maputo, Moçambique (GMT +1)
Cargo: Diretor da ONG Osuwela
Idade: 57 anos