Adico: mobiliário de ferro elegante e funcional

A empresa começou a fabricar a icónica cadeira portuguesa, clássico do mobiliário, nos anos 30

A Adico nasceu em 1920 em Avanca, Estarreja, terra natal do fundador. Permanece no sítio de sempre, nas mãos da mesma família, a fabricar a cadeira portuguesa, o clássico das esplanadas que anda pelo Mundo há 90 anos. Um caso de estudo do design nacional.

Numa parede dos escritórios, está uma fotografia a preto e branco dos primórdios da produção da empresa que mostra gente trabalhadora a moldar o ferro. Há mais imagens de ambiente fabril, de criações e de peças, espalhadas por outros lugares do edifício, e espólio antigo recolhido e guardado ao longo de anos: tabelas de preços em escudos, anúncios, cartas com letra de máquina de escrever para clientes e fornecedores. A história da Adico começa a escrever-se em Avanca, Estarreja, em dezembro de 1920, pelas mãos de Adelino Dias Costa, empresário que subiu a pulso e que batizou a sua fábrica de móveis de ferro com letras do seu nome. Centenário celebrado, preparam-se os próximos cem anos.

A Adico funciona no lugar de sempre, permanece nas mãos da mesma família, vai na terceira geração, é gerida por cinco sobrinhas-netas do fundador. A liderança é, aliás, maioritariamente feminina. Ao leme da produção, da área financeira, da logística, da qualidade e do setor comercial estão mulheres, cenário pouco habitual na indústria metalomecânica. Mas esta não é uma empresa qualquer, é das fábricas de mobiliário metálico mais antigas do país e da Europa. Começou por fabricar camas, lavatórios, pequenos cofres em ferro. Alargou a produção para mobiliário hospitalar, destacou-se no fabrico de mesas de operações hidráulicas com tecnologia avançada para a época.

Os anos 30 do século passado são marcantes e abrem uma página dourada no percurso industrial e histórico da Adico. A empresa começa a fabricar a icónica cadeira portuguesa, clássico do mobiliário, símbolo das esplanadas, que se tornou um caso de estudo do design nacional. Salta décadas, resiste e sobrevive há 90 anos, cadeira de porte elegante, robusta, de ferro, confortável, de linhas simples e design intemporal. Uma peça que transpira portugalidade, sempre atual, sempre moderna.

“Em termos de desenho, quase nasce de um gesto, são dois tubos curvados de determinada maneira”, descreve Adelina Dias Costa, arquiteta, afilhada e sobrinha-neta do criador da Adico, administradora executiva da empresa. É cadeira feita para durar e tem garantia de dois anos. “É confortável, duradoura, funcional, empilhável”, acrescenta Miguel Carvalho, primo direto das cinco sobrinhas-netas, gestor, também administrador executivo. É cadeira portuguesa, com certeza, espalhada um pouco por todo o Mundo.

“A simplicidade tem sido um dos fatores críticos de sucesso”, sublinha Miguel Carvalho. A Adico tem duas linhas, a outdoor e a clássica que é uma reedição do espólio antigo. Fabrica cadeiras, mesas, bancos, bancos de bar, cadeirões, de vários tamanhos e cores, e mobiliário hospitalar, como camas e marquesas. Formas harmoniosas, traços fluidos, linhas simples, ora sóbrias ora mais irreverentes, e os clássicos adquirem novos visuais. Acima de tudo, peças funcionais e design que não passa de moda.

O gestor Miguel Carvalho e a arquiteta Adelina Dias Costa, afilhada e sobrinha-neta do fundador, são os administradores executivos

Adelina Dias Costa realça as influências da Bauhaus, escola de arte alemã, vanguardista no seu tempo. “Essas formas e esses modelos foram, de certa forma, importados”, repara. Agora, a empresa tem um gabinete técnico de design e estabelece parcerias com designers nacionais e internacionais para o desenvolvimento de novos produtos.

Neste momento, são mais de cem artigos, produção que ronda as cem mil unidades por ano, e a empresa está presente em 30 países, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, México, França, Espanha, Bélgica, Itália, Malta, entre outros. Os principais clientes são da área da restauração, do setor hoteleiro, esplanadas, bares, casas particulares para indoor e outdoor. O negócio tem corrido bem e os números mais recentes indicam crescimento. “Dobrámos o volume de negócios em termos de exportação”, revela Miguel Carvalho.

Bom gosto, solidez, barateza

O tubo metálico é o ADN da empresa, a origem de tudo, a base de todas as peças. O tubo é cortado, dobrado, furado, soldado, pintado, montado. Essa marca está bem visível na fachada da empresa, numa escultura de relevo com um homem a curvar tubo à moda antiga, mandada esculpir na década de 1950. Neste momento, a Adico tem 60 trabalhadores, entre serralheiros, torneiros, soldadores, carpinteiros, pintores que produzem peças de design falado em português. Não é por acaso que a Adico foi uma das marcas convidadas a participar na mostra representativa “Design em São Bento – traços da Cultura portuguesa”, exposição que reuniu vários setores da produção nacional na residência oficial do primeiro-ministro.

Adelino Dias Costa, fundador da Adico, cresceu a deitar o olho à pequena serralharia do pai, em Avanca. Ganhou gosto pelo ofício. Aos dez anos, partiu para o Brasil, onde tinha familiares, em busca de uma vida melhor, mas uma doença trocou-lhe as voltas. Regressou à terra natal, recuperou da maleita, meteu na cabeça que queria ser serralheiro, passava horas na banca do pai, até que partiu para cumprir o serviço militar, instalou-se em Lisboa, entrou na Fábrica Portugal, onde se dedicava ao fabrico de mobiliário metálico. Acabaria por ser recrutado para prestar serviços nas colónias, tinha tudo para ser militar, chegar a sargento. Mas não. Voltou à fábrica de Lisboa, montou a sua oficina, rumou a norte, abriu a Adico numa Avanca rural e pobre, chegou a empregar 350 funcionários, criou um curso de alfabetização, ergueu a Fundação Benjamin Dias Costa, em honra do seu único filho que morreu jovem, foi distinguido como comendador.

As palavras-chave do fundador honram o passado e continuam a fazer sentido no presente e no futuro: simplicidade, higiene, bom gosto, solidez, barateza. Conceitos fortes escritos em papéis do século passado pelo criador da Adico que falava de progresso e do seu lema baseado em duas palavras: honra e trabalho.

A Adico tem os olhos postos no que há de vir. “Estamos muito virados para o futuro, mas temos de aprender com as coisas que foram bem feitas no passado”, defende Miguel Carvalho. “Concluímos estes cem anos com uma empresa robusta, sólida, muito identificada com o caminho que queremos fazer, e temos de preparar os próximos cem anos para que outros celebrem os 200 anos.”

Nos últimos tempos, o foco tem estado no desenvolvimento de novas linhas de mobiliário para interior e esplanadas, bem como no design e na tecnologia. “Foi feito um reforço muito grande junto das marcas”, adianta o administrador.

Miguel Carvalho fala no futuro, em reunir condições de sustentabilidade, crescer, alargar instalações, investir em novos equipamentos, apurar o modelo de gestão, terminar o novo site, abrir um showroom em abril, no Porto, segue-se Lisboa, Madrid talvez. Tudo para, explica, “dar resposta ao que vai alimentando a empresa que são os produtos” e para que “a marca continue a ser reconhecida por aquilo que genuinamente é”. Há uma frase que Adelina Dias Costa se habituou a ouvir e que não esquece. “É bom, é bonito, e deve ser da Adico.”

Nome: Adico
Atividade: Mobiliário de ferro
Data de fundação: 1920
Morada: Rua Comendador Adelino Dias Costa, n.º 74, Avanca, Estarreja
Número de funcionários: 60