Plantas ancestrais utilizadas há milhares de anos nas tradições orientais estão agora a ser descobertas pelo Ocidente como poderosas armas para ajudar a lidar com situações de tensão e regular os níveis de energia.
Comecemos pelo conceito. O termo adaptogénio foi cunhado em 1947 pelo médico soviético Nikolai V. Lazarev, na sequência de várias investigações realizadas durante a II Guerra Mundial com o objetivo de melhorar o desempenho de atletas e militares da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), e posteriormente revisto para definir plantas não tóxicas, que oferecem suporte global e que ajudam a restaurar o equilíbrio do organismo. A palavra tem algumas décadas, ainda é pouco conhecida, mas esta categoria de plantas está longe de ser nova. A sua utilização remonta à Medicina Tradicional Chinesa e ao aiurveda (sistema tradicional hindu), que há mais de cinco mil anos recorrem a ervas, raízes e cogumelos para tratar os mais diversos problemas.
Melissa Pettito, nutricionista e chef norte-americana, autora de vários livros sobre alimentação natural e suplementos nutricionais de origem orgânica, é uma entusiasta destas plantas e acaba de lançar “Adaptógenos – mais de 40 ervas, raízes e fungos para ter menos stresse e mais energia e bem-estar” (Arteplural Edições). De uma forma muito simples, caracteriza adaptógenos (ou adaptogénios) como “plantas inteligentes não tóxicas que ajudam o corpo com todos os tipos de stress – físico, químico e/ou biológico”.
A regulação dos níveis de energia, de forma a que o organismo restabeleça o estado de equilíbrio, é uma das principais funções destas plantas. “Não são para dar energia, servem para o corpo usar melhor a energia que tem disponível ao longo do dia. Ou seja, para não ter picos de stress intenso nem grandes quebras. O que estas plantas fazem é estabilizar os níveis de energia, influenciando a adrenal, uma glândula que está por cima do rim e controla a secreção de cortisol e de adrenalina, a nossa reposta de stress”, explica André Amorim, especialista em Medicina Integrativa (que junta a abordagem convencional com a visão natural e holística da saúde) e diretor clínico da Naturena, em Barcelos.
Como começar?
Mas, no atual estilo de vida frenético, como introduzir estas plantas? Segundo Melissa Pettito, “uma forma superfácil” é integrar na alimentação alguns cogumelos – como os reishi, juba-de-leão e cordyceps – que agora começam a ser mais conhecidos e já são comercializados em preparados de chá, café e outras bebidas. Mafalda Pinto Leite, autora de livros sobre cozinha saudável, há muito que integra os adaptógenos na alimentação e diz que “a forma mais simples é adicionar estes ingredientes a pão, sopas, bolos, chás ou batidos”. Os cogumelos chaga e reishi e shatavari são das plantas que utiliza em receitas que partilha no site da MPL’beauty, a empresa que fundou e que comercializa produtos à base de ativos botânicos e biológicos.
Melissa Pettito aconselha começar por um adaptógeno e avaliar o seu efeito antes de juntar outro e, no caso de grávidas, mães a amamentar ou portadores de doença, uma consulta prévia com um médico. Os resultados, garante, podem ser “incríveis”, mas “não são uma solução de efeitos imediatos” e não devem substituir hábitos saudáveis, como dormir o suficiente, privilegiar alimentos integrais e não processados e praticar atividade física.
“Embora haja pessoas que sentem os efeitos no próprio dia”, demora cerca de duas semanas até os benefícios estarem consolidados, segundo André Amorim. “De uma forma geral, para quem sofre muito de stress ao longo do dia, aconselho a que se tome logo de manhã. Para quem o stress afeta o sono, podemos também dar ao fim da tarde ou por volta da hora do jantar. Isto no caso dos adaptogénios que não são estimulantes, como a ashwagandha, a rodiola ou o astrágalo. Se a planta tiver um efeito excitante, como o panax ginseng [ginseng asiático], não deve ser tomada à noite. Já o ginseng siberiano [eleutherococcus senticosus] pode ser consumido à noite.”
Embora ainda relativamente desconhecidas, já é possível encontrar estas plantas – secas ou sob a forma de pós, cápsulas, xaropes ou em diversos preparados e suplementos – em ervanários e lojas de produtos naturais. Na hora de escolher como as tomar, é preciso ter em conta alguns fatores. A começar pela origem. André Amorim recomenda que sejam produtos biológicos, até porque muitas destas plantas são oriundas da Índia e da China, onde são muito utilizados pesticidas.
A forma de apresentação também importa. “No aiurveda e na Medicina Tradicional Chinesa usam mais pós, cascas e chás. Na Europa e também na América, é mais habitual usarmos comprimidos. Geralmente, estas plantas requerem uma dose generosa para produzirem efeito. Se forem comprimidos, devem ter uma elevada concentração dos princípios ativos. Se não for assim, prefiro usar os pós, porque é mais fácil controlar as doses”, sustenta André Amorim.
Estimular, regular, pausa
Quanto a riscos ou efeitos secundários, são pouco comuns, assegura o médico. Mas há casos raros de “pessoas que estão tão sobrecarregadas de stress que, em vez de descansarem, ficam ainda mais despertas”. É o chamado efeito paradoxal. André Amorim sugere que se comece com doses baixas, observar os efeitos, e ajustar. “De uma forma geral, não aconselho a que se tome mais de dois meses seguidos. A ideia é estimular o organismo, regular, dar uma pausa e voltar a tomar, se for necessário. Não deve ser contínuo.” Este princípio, que se aplica de forma geral a todas as plantas, serve o objetivo de contrariar o efeito de habituação.
Idealmente, o tratamento deve iniciar-se antes dos picos de maior stress. “Estas plantas devem ser tomadas antes de se chegar a uma situação de exaustão, ao burnout, a exaustão da adrenal, sempre que é possível prever ou então quando os primeiros efeitos do stress começam a manifestar-se”, defende o diretor clínico da Naturena. “Em períodos de maior exigência – como exames escolares, conclusão de projetos no trabalho ou nas famílias onde nasceu um bebé, por exemplo -, os adaptogénios ajudam a que não haja quebras tão acentuadas de energia, a regular os ciclos de sono, porque trabalham a nível da adrenalina e do cortisol, que faz, por exemplo, com que as pessoas despertem durante o sono ou tenham o sono muito leve, e ajudam a regular os ciclos para que durante o dia a energia esteja mais focada e durante a noite um descanso mais profundo.”
Como usar estas plantas
Melissa Petitto, autora de “Adaptógenos – mais de 40 ervas, raízes e fungos para ter menos stresse e mais energia e bem-estar”, deixa algumas sugestões para beneficiar destas plantas:
- Para mulheres: Shatavari, por ser um “equilibrador hormonal feminino” que aumenta a fertilidade, a libido e alivia os sintomas da menopausa
- Para homens: Cordyceps, porque ajuda na disfunção adrenal e aumenta a da resistência ao stress e doenças externas
- Para o stress: Todos os adaptogénios, mas especialmente ashwagandha e astrágalo
- Para fadiga física e mental: Manjericão-sagrado (tulsi), curcuma, chaga
- Para ansiedade/insónia: Manjericão-sagrado (tulsi), reishi, ginseng siberiano, shatavari
- Para problemas digestivos: Manjericão-sagrado (ou tulsi), cauda-de-peru