Para quem parou abruptamente no verão, a inércia de regressar à prática desportiva é ainda maior. Conheça estratégias para contornar a preguiça e recuperar, aos poucos, a boa forma e a sensação de bem-estar.
Depois de uma longa paragem, raramente apetece voltar ao ginásio ou à atividade física em casa. Entre os mergulhos e as noites longas, perdem-se rotinas e, mesmo depois do regresso ao trabalho, arranjam-se desculpas a torto e a direito para recuperar a forma. Se houve uma paragem total, a inércia para voltar à prática desportiva é ainda maior. “Diz a ciência que parar completamente entre uma semana a quinze dias é como voltar à estaca zero. E há um retrocesso do que foi alcançado na época desportiva, que se considera o período do ano letivo”, comenta Mário Amaro, professor de Educação Física e personal trainer. Um dos segredos é não parar radicalmente nas férias para que o recomeço não custe tanto. Mas, mesmo para quem parou abruptamente, há estratégias para contornar a preguiça.
Uma delas é “não entrar a pés juntos e à maluca quando se recomeça o exercício físico”. Mário Amaro sugere não criar objetivos que sejam absurdos nesta fase, mas sim realistas e alcançáveis, mais fáceis de atingir a curto e médio prazo. Fazer por fazer, sem objetivos, raramente dá certo. Perder peso ou ganhar massa muscular por exemplo. “Porque os resultados são sempre uma grande motivação.” Assim, ao contrário de se estabelecerem metas irreais, como começar a treinar sete dias por semana, comer e dormir bem, é melhor ter os pés assentes na terra. “Não conseguimos controlar tudo ao mesmo tempo e iniciar pouco a pouco para ir crescendo ao longo da época é o ideal.”
Se o tempo escasseia, sobretudo no caso de quem tem filhos e precisa de encaixar o ginásio entre a vida familiar e laboral, o melhor é fazer um planeamento semanal, “porque há sempre alterações a cada semana”. Marcar na agenda a atividade física, como se fosse uma reunião de trabalho. “E cumprir sempre. Se marquei treino às 18.30 horas, é a essa hora que vou treinar.”
De acordo com Cláudio Mocho, CEO da plataforma Personal Trainers, encontrar uma atividade que seja motivadora também é uma boa dica para a rentrée. Isso e treinar com um amigo, para um puxar pelo outro. Para quem treina em casa, online, a estratégia passa igualmente pelo compromisso, sempre o compromisso. “Comprar pacotes com aulas que têm horas marcadas e são live. Para não desmotivar. Há pessoas que treinam online à hora que querem e passa-se o dia e acabam por não treinar. Mas se houver sempre aula àquela hora, com aquela duração, há uma obrigação. Estar sempre a dizer que ‘para a semana recomeço’ não resulta.” Comprar roupa e calçado novo de desporto também pode ser uma boa motivação.
Rui Gomes, professor de Psicologia de Desporto na Universidade do Minho, salienta as vantagens que o exercício aeróbico, de pelo menos 30 minutos por dia, tem na nossa saúde, não só física, mas mental. “Está associado a uma diminuição da perceção de stress, à redução dos sentimentos de mal-estar, à redução dos estados de ansiedade.” E também à redução dos níveis de depressão, sublinha. Entre as dicas, o docente alerta que estabelecer um novo plano, reformulando objetivos, com recurso à ajuda de profissionais certificados, é uma boa forma de recomeçar. Além de “prever pequenas recompensas sempre que se cumpre o número de sessões de treino previstas ou sempre que se alcança algum objetivo importante”.
Ainda assim, todos são unânimes. Ser acompanhado por alguém especializado na área, um técnico de exercício físico “que oriente o processo e nos ajude a atingir os objetivos que queremos, adaptando à capacidade de cada pessoa”, nas palavras de Mário Amaro, é uma das melhores formas de não perder o foco. Como se diz no mundo do fitness: o corpo de verão prepara-se no inverno.
Consulte aqui a infografia de um treino geral de regresso à atividade física