Talvez seja o sorriso, o rosto de menina, a voz tranquila que a poupam aos ódios devotados a António Costa. E que não permitem pressentir nela a dureza, a frieza, de que é capaz. Aplica-se-lhe a máxima que já foi de Liedson. É assim que o primeiro-ministro a vê.
Problemas e más notícias encontram-na sempre prevenida. Pessimista moderada, prevê cenários, avalia hipóteses, descobre saídas forjadas em negociações, em alianças, “formas de levar as coisas para a frente”, domínio racional que só se esconde em momentos, poucos, da vida privada, sempre protegida. “Sou uma chata”, costuma dizer.
A capacidade de antecipação talha-a para o papel que António Costa lhe confia: o de assessor mais próximo, último e primeiro conselheiro do líder, com funções de coordenação interministeriais. Vieira da Silva adivinha-lhe as dúvidas, as palavras, traz-lhe as soluções.
Química confirmada em 2015, com a elaboração do programa eleitoral e da moção de estratégia ao congresso do ano interior, mas que vem desde os primeiros dias. Foi Fernando Medina, amigo de ambos, quem fez as apresentações. “Conhecendo-os, já sabia no que ia dar.”
O autarca lisboeta recua 20 anos, era a ministra estudante de Sociologia no ISCTE. “Muito alegre e muito comunicativa. Já então muito exigente com os outros e, sobretudo, com ela própria.” Realça “a inteligência, a capacidade de trabalho” – 12 horas diárias divididas em reuniões de trabalho e de coordenação – “e uma lealdade a toda a prova”. A lealdade que a leva a “dizer sempre o que pensa por muito que isso custe ao interlocutor”.
Maria de Lurdes Rodrigues, ex-ministra da Educação, de quem Mariana foi assessora, concorda: “Pensa sempre pela cabeça dela. Apesar de muito jovem, impressionava pela capacidade de trabalho, pela inteligência, pela capacidade política e pela boa disposição. E pelo sorriso franco e maravilhoso, que mantém”.
Talvez seja o sorriso, o rosto de menina, a voz tranquila com que informa o país das medidas saídas dos conselhos de ministros, explicando-as em disponibilidade pelo menos aparente, que a poupam aos ódios devotados a Costa. E que não permitem pressentir nela a dureza, a frieza, de que é capaz: “Às vezes sou um bocado dura”. Por exemplo, com quem não vai a jogo, limitando-se a exercer uma resistência passiva ao “processo de construção de soluções”, a fase do exercício político de que mais gosta.
“Sou mesmo PS”, diz. Porque gosta de “consensos”, porque acredita na “transformação da sociedade por vontade maioritária e não vanguardista”. Porque acredita que só com “a conjugação de iniciativas públicas e privadas é possível combater as desigualdades”.
É, afirmam amigos, “uma mulher de fôlego”. Nadadora de alta competição, ao longo de uma década, gostaria de praticar com maior regularidade. De levar as sobrinhas às piscinas do Sporting todos os sábados. De retomar as viagens.
Com o pai partilha convicções ideológicas e desportivas – o amor ao Sporting, a admiração pelo tenista Roger Federer, o prazer de acompanhar os Jogos Olímpicos. Trocam ideias, livros, relatos de viagens, receitas. Não é fácil a um pai falar de um filho. O ex-ministro José António Vieira da Silva deixa apenas uma lembrança: “Foi uma criança extremamente curiosa por tudo”. A quem não conseguiu incutir, apenas, o gosto pela ficção científica. “Há tanta urgência no presente, tanto para fazer e provar, que o futuro perde um pouco a relevância”, responde Mariana Vieira da Silva.
Acabar a tese de doutoramento ou voltar a dar aulas de natação a crianças, para matar saudades, são projetos. “O único limite da Mariana é a sua própria vontade”, frisa Fernando Medina. Carlos Cordovil, o amigo da escola primária, acredita que será dela a liderança do PS, mas era na presidência do Sporting que gostava de ver a amiga.
“Discreta e tranquila, tem todo um futuro político à sua frente”, vaticina Maria de Lurdes Rodrigues. No presente, aplica-se à primeira-ministra em exercício a máxima que já foi do sportinguista Liedson: “Mariana resolve”. É assim que António Costa a vê.
Mariana Guimarães Vieira da Silva
Cargo: primeira-ministra em exercício – Ministra de Estado e da Presidência no XXII Governo Constitucional
Nascimento: 08/05/1978 (43 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)