O meu objeto: a máquina de escrever de JP Simões

“JP Simões canta José Mário Branco” é o novo trabalho do artista, uma homenagem a uma das maiores figuras da música de intervenção. O cantor tem concerto no Festival Rádio Faneca, em Ílhavo, dia 15 de junho, às 21 horas

O objeto escolhido pelo cantor e compositor JP Simões.

“‘A Informática é o futuro!’ diziam as vizinhas da minha avó, já em 1985, nas conversas da mercearia. Trabalhei parte do verão desse ano para conseguir comprar um Sinclair 1000, o primeiro e mais básico computador pessoal que conheci, mas aborreci-me rapidamente do futuro. Embutido na minha irresolução adolescente, sem grande talento para o convívio, deu-me para ler, quase até à cegueira. E foi o começo de uma bela e estranha viagem, aos solavancos desde ‘As aventuras dos Cinco’ até ao ‘Livro do desassossego’, parando muitas vezes para descansar nos quadradinhos do inquieto Pato Donald ou para me perder nas aventuras exóticas de Corto Maltese. Mas o mal estava feito. Tinha começado a escrever nos cafés e a fumar e a beber, intoxicado por tantas leituras cujo sentido muitas vezes me escapava, mas que me traziam sempre uma vertigem mágica: como se o segredo de todas as coisas estivesse algures num certo e misterioso amontoado de vocábulos. E pronto: o meu avô ofereceu-me esta bela máquina de escrever. Uma Olivetti – Lettera 32. Mal empregada.”

Cantor e compositor
54 anos