Jorge Manuel Lopes

A viagem americana dos Depeche Mode


Crítica de música, por Jorge Manuel Lopes.

A edição em março de 1989 de “101” lançou os Depeche Mode para um novo, por sinal o mais popular, capítulo da carreira dos Depeche Mode. Um salto dado graças a um registo gravado ao vivo, a 18 de junho de 88, no estádio Rose Bowl, em Pasadena, Califórnia. Etapa final da digressão de promoção do álbum “Music for the masses”, este trabalho resume as mutações por que o quarteto britânico passou ao longo da primeira década de vida, de uma pop eletrónica cintilante para um som mais áspero e sombrio. Além disso, “101” sublinha um fascínio pelo imaginário e escala americanos que não pararia de se acentuar nos anos seguintes, nos best-sellers “Violator” (1990) e “Songs of faith and devotion” (93).

Sendo o momento especial, o grupo decidiu não só registar em disco o concerto californiano (o 101.º da tour) como convocar o documentarista D. A. Pennebaker para filmar a experiência americana. Pennebaker já havia tratado Bob Dylan, David Bowie, The Plastic Ono Band e vários outros protagonistas do rock com uma visão singular, fugindo a narrativas e modos de olhar padronizados, privilegiando uma abordagem aparentemente crua e direta mas pejada de becos e pontos de interrogação. Assim fez também com os Depeche Mode, num filme em que o concerto no Rose Bowl é alegremente atropelado por imagens do quotidiano de banda e fãs na estrada.

Euforia de som e imagens, “101” acaba de regressar às lojas em Blu-ray. Em versão restaurada e aumentada, acondicionando no mesmo objeto o documentário e um mais ortodoxo filme-concerto.