Susana Romana

2021, o Ministério da Saúde e a festa de Neymar

Rubrica "Partida, largada, fugida", de Susana Romana.

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E cá estamos nós em 2021, o ano que tem a tarefa de fazer esquecer 2020. É como se o filho mais novo tivesse obrigação de ser mais atinado do que o filho mais velho – mas o mais velho está preso por pegar fogo a orfanatos e assassinar pandas bebés. Esperemos que a tarefa seja tão fácil como parece.

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Assim à partida, há logo uma grande diferença: 2021 tem vacinas e a tal imunidade de grupo em curso. É a primeira coisa “de grupo” que vamos ter em muito tempo. Isto se não andarem em Bruxelas nas orgias, claro.

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O Ministério da Saúde disparou SMS para o telemóvel de toda a gente, a avisar que a vacinação já começou e que devemos aguardar contacto. Muita gente criticou esta medida por achar que SMS indiscriminados sobre algo com prazos de execução tão diferentes só confunde. Eu honestamente só fiquei desiludida porque não me disseram a quanto é que está a pá de porco esta semana.

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Além do SMS, existe também no site da DGS um simulador para sabermos quando vamos levar a vacina. Eu bem meti lá os dados, mas todos os simuladores do Estado dão-me só que tenho de pagar IRS.

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A primeira vacina em Portugal foi administrada ao diretor do serviço de doenças infecciosas do Hospital de São João. Já passaram sete dias e ainda não há notícias de lhe terem crescido guelras ou de ter um modem na testa que lhe permite apanhar o streaming ilegal da Sport TV. Uma desilusão.

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Porém, mesmo com vacina não podemos respirar fundo. Depois da perda de olfato e de paladar, descobriu-se uma nova complicação ligada à covid-19: uma alteração dos cheiros devido a um choque nos nervos do nariz, que faz com que tudo emane um odor a peixe, queimado ou enxofre. Tudo fica a cheirar, portanto, à casa do Big Brother. Ninguém merece.

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O futebolista Neymar promoveu uma festa no Rio de Janeiro: cinco dias, 500 convidados e uma discoteca subterrânea construída de propósito para o efeito. A boa notícia é que quem constrói uma discoteca também constrói um hospital, certo? Devia ter ouvido o nosso presidente Marcelo a fazer planos de estar com apenas 18 pessoas no Natal, Neymar teria logo reduzido para 480 pessoas.

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Novas escavações arqueológicas em Pompeia revelaram um restaurante de “fast-food” intacto, do ano 79 d.C. É interessante perceber como foi mais fácil à restauração sobreviver à erupção vulcânica do Monte Vesúvio do que aos fechos à uma da tarde durante o estado de emergência.