Permacultura, um método e uma filosofia

Conheça 12 princípios da permacultura, segundo David Holmgren

Três pilares essenciais: cuidar da terra, cuidar das pessoas e partilhar os excedentes. Na horta e no jardim é possível dar e receber mais do solo, respeitando a natureza.

As necessidades humanas podem e devem estar ligadas a soluções sustentáveis, e a permacultura é um exemplo disso. Por isso, se tem uma horta ou jardim, saiba que pode utilizar técnicas de forma a produzir melhores alimentos, que se refletem em melhor saúde para quem os consome.

Primeiro a história. A palavra permacultura teve origem no inglês “permanent agriculture” e foi cunhada em 1978 pelo professor australiano Bill Mollison, com o auxílio do então estudante David Holmgren. Tudo porque ao verificarem que os recursos naturais da sua região se estavam a esgotar, desenharam um modelo de trabalho e desenvolvimento em que a agricultura, em ligação às atividades humanas e integrada no meio ambiente, produzisse recursos suficientes e de forma não predatória. Atualmente, a permacultura é considerada uma ciência de âmbito social e ambiental, que combina o conhecimento científico com a sabedoria tradicional. Método e filosofia de vida, estimula o desenvolvimento sustentável aliado a um ambiente produtivo nas áreas rurais e urbanas. Além disso, jardins e hortas podem ser verdadeiras obras de arte.

Para uma melhor compreensão, entram em cena três pilares fundamentais. Primeiro: cuidar a terra, para que ela seja saudável e os sistemas de vida se multipliquem. O solo não deve ser usado de forma abusiva e desmedida. Segundo: cuidar das pessoas, para que todas possam ter acesso aos recursos necessários à sua existência. Só assim o ambiente prospera e se assegura a continuidade geracional. Terceiro: partilhar justamente os excedentes, como o dinheiro, o tempo e a energia. Além dos pilares, a permacultura segue 12 princípios para quem a queira tornar numa filosofia de vida (ver caixa).

Hortas que são jardins

A prática resultou e o modelo tornou-se conhecido, expandindo-se para vários países. Em Portugal há exemplos. A Herdade Ribeira da Borba, em Vila Viçosa, é uma propriedade baseada nos princípios da permacultura. Mas há mais. João Bicho, arquiteto paisagista, teve e tem bastantes projetos em mãos, principalmente hortas, em que segue muitos destes princípios: casos da horta da Quinta de Ventozelo, em São João da Pesqueira, e do Palácio de Mateus, em Vila Real. “Trabalhamos as hortas de uma forma mais tradicional, de forma a torná-las quase jardins, visitáveis todo o ano.”

No que respeita à proteção do solo, João Bicho explica que combina culturas permanentes com outras mais efémeras. Tudo misturado. Bem arranjado. Sem químicos. “A terra torna-se mais sustentável sem produtos químicos. Quando combinada com flores, que atraem insetos benéficos e auxiliares, que ajudam combater pragas, há um equilíbrio ambiental muito grande.” João fala de pirilampos e de joaninhas, a que se podem juntar as abelhas. “Além dos insetos, podemos ter sapos ou salamandras, que comem os caracóis. E aí já será possível trabalhar com pequenos lagos ou regatos no terreno, que vão funcionar como habitat para eles. O objetivo é ter o sistema o mais rico possível.”

Ter menos espaço entre plantas também é benéfico: “Faz com que se use menos fertilizantes, ainda que seja o estrume”. Por regra, a permacultura associa-se à compostagem. Ou seja, todos os resíduos são decompostos e voltam a ser integrados na horta. “Há um ciclo. As culturas complementares, no fim de vida, vão alimentar as seguintes.”

Na permacultura não há acasos. “Os feijões são leguminosas que aumentam a fertilidade do solo, e o mesmo acontece com as ervilhas.” As árvores de fruto também têm o seu lugar. “Usa-se a sombra para ter culturas mais sensíveis.”

Regra geral, são solos onde reina a eficiência e até um menor esforço humano. Não é que as pessoas não precisem de pôr as mãos na massa, mas evitam-se perdas de tempo. Por exemplo, na luta contra a erva, que exige braços permanentes, a estratégia pode passar por cobrir os espaços vazios na terra com cascas de pinho, se estivermos a falar de jardins. Nas hortas pode ser palha. “Vai proteger o solo e reduzir a evaporação de água.”

Mas o mais importante, sublinha João Bicho, é reconhecer cada um dos terrenos em que trabalha, porque são todos diferentes. “É algo que leva tempo. Ao fazermos uma horta, por exemplo, vamos enriquecendo o solo e vamos conseguindo ter mais culturas. Não trabalhamos para esgotar o terreno, mas para o tornar mais rico e mais generoso connosco.”

12 princípios da permacultura, segundo David Holmgren

1 – Observar e interagir.
2 – Capturar e armazenar energia.
3 – Obter rendimento.
4 – Aplicar autorregulação e aceitar retroação.
5 – Usar e valorizar serviços e recursos renováveis.
6 – Não produzir resíduos.
7 – Desenhar os padrões ao detalhe.
8 – Integrar mais que segregar.
9 – Usar soluções pequenas e lentas.
10 – Usar e valorizar a diversidade.
11 – Usar limites e valorizar o marginal.
12 – Usar e responder à mudança com criatividade.