Marcar o corpo, furo a furo

Línguas perfuradas em todas as direções, diferentes piercings no mesmo genital, dilatações nos mais diversos furos. Dezassete anos depois de ter tido luz verde do “mestre” para pegar numa agulha e começar a furar o corpo de alguém, Paulo Rui acabou por redefinir o seu próprio conceito de excentricidade. São raros os pedidos que o deixam boquiaberto. “O mais fora do vulgar talvez tenha sido pedirem-me para perfurar a úvula [popularmente designada de campainha da boca]”, revela o body piercer da HeartGallery Tatto & Piercing, no Porto.

Mas fazer um piercing, prática com cinco mil anos, é bem mais do que furar uma parte do corpo e colocar uma peça de titânio esterilizado. “Um piercing não está feito quando o cliente sai do estúdio, mas quando o furo está cicatrizado.” É um processo que pode durar meses. Os segredos? A experiência do profissional, a escolha dos materiais certos e os cuidados posteriores com o furo. Face ao elevado nível de loucura das solicitações, cabe ao body piercer dizer não. “Um pedido que sempre recusei foi o de perfurar as pálpebras porque pode resultar em graves problemas de visão.”

Ainda que, segundo EmeCii, body piercer da Queen of Hearts Tattoos, em Lisboa, as perfurações mais requisitadas sejam as da hélix, concha, tragus (todas na orelha), mamilos e nariz, há uma procura cada vez maior de “piercings fora do normal”, através dos quais os clientes possam “demonstrar irreverência”. Annaïs Gomes, a trabalhar na área desde 2009 na Triparte, baixa lisboeta, confirma a tendência. “Já me pediram piercings não muito usuais, mas o local mais estranho que furei foi o períneo, zona entre a vagina e o ânus.”

Foto: Igor Martins/Global Imagens

Nada de pistolas

Contudo, as características corporais de cada pessoa é que vão ditar se é possível efetuar uma perfuração. “Nem todos os piercings são exequíveis em toda a gente. A nossa fisionomia é algo a ter em conta”, realça Paulo Rui. Afinal, como se fazem estes furos? “O material mais usado é a agulha com cateter. Para certos piercings também uso a agulha americana e a de biópsia, conhecida por ‘punch’. Todas elas existem em várias espessuras e tamanhos e é o local escolhido para perfurar que irá ditar a escolha.” EmeCii completa: “Nenhuma perfuração deverá ser realizada com recurso a pistolas devido aos problemas que lhe estão associados”, nomeadamente a “má cicatrização”.

A dor sentida durante a realização do furo é relativa. Exceto se estivermos a falar da perfuração do genital masculino. “Esse é, sem dúvida, o sítio mais doloroso”, garante Paulo Rui. Haja sangue frio.

Cuidados a ter depois de fazer um piercing:


1) Utilizar sempre o cicatrizante aconselhado
2) Não retirar nem trocar o piercing durante um mês
3) Rodar o piercing para ajudar na cicatrização é um mito
4) Evitar pancadas e fricções no local
5) Manter a zona do piercing limpa e seca