Joel Neto: “Sei plantar uma orquídea e assentar um tijolo”

Joel Neto foi fotografado em Angra do Heroísmo, nos Açores. "Muito mais do que saudade", escrito com Catarina Ferreira de Almeida, é o seu livro mais recente, lançado no início do mês (Foto: António Araújo/Global Imagens)
Vejo bem…: Sei plantar uma orquídea e assentar um tijolo. Aprecio a beleza. Cultivo a curiosidade. Sou razoavelmente criativo. Procuro ser otimista e ter autocrítica. Comunico bem. E tenho instinto melódico. Tento seguir os estoicos e, no fundo, fazer o melhor que posso com o que tenho. A maior parte das vezes, creio que sou corajoso. E esforço-me por perder com dignidade. Sou capaz de perdoar. Sou contraditório. Ao menos não resumo os meus defeitos a “Sou um bocadinho teimoso” ou “Confio de mais nas pessoas”. Mesmo que tudo o resto seja mentira, sou trabalhador.
Vejo mal…: Também sou preguiçoso, a verdade é essa. E algumas vezes sou cobarde. E sou vaidoso, oh se sou. E sou gastador. E impaciente. Pior: sou ignorante e voluntarioso, combinação explosiva. Sou stressado. E vicioso, muito. Tenho medo de que o tempo se me escoe entre os dedos sem eu deixar ditas todas as coisas importantíssimas que tenho a dizer ao mundo. Sou vaidoso – já disse? E tímido, ou talvez inseguro. Condescendente, às vezes, e nessa altura até preferia ter sido arrogante. Detesto a ideia de autoridade em quase todas as suas formas (é defeito, é). Ainda por cima, gosto de ser tratado com deferência. Tenho cada vez menos paciência para o que não tenho paciência. Nem sempre encontro tempo – e não sei se o procuro bem – para agradecer devidamente aquilo por que devo estar grato. Quase todo o tempo que não passo a escrever me parece um desperdício.

Escritor
45 anos