João Moura: “Nós, toureiros, gostamos dos bichos por partes”

João Moura foi constituído arguido e saiu em liberdade com termo de identidade e residência (Ilustração: Mafalda Neves)

O nosso entrevistado desta semana é o cavaleiro tauromáquico João Moura, que foi recentemente detido por maus-tratos a animais, mas, por acaso, desta vez não foram touros. Estava aqui a olhar para si e a pensar que você é que precisava da dieta que deu aos seus galgos.
Estou um bocado gorducho, é verdade.

Já estou a imaginar na tourada anunciarem – com 640 quilos o touro Barreto e com 220 quilos o cavaleiro João Moura. Vamos lá falar. Você acha que aquilo é maneira de se tratar um animal? Nunca vi cães tão esqueléticos. Você comeu a ração dos bichos?
Não estão esqueléticos, estão só um bocadinho magrinhos. Olhe a foto deste aqui…

Isso é um chihuahua.
Não, é um São Bernardo alimentado por mim.

Eu acho que o senhor é um caso patológico. É um sádico que maltrata animais.
Isso é mentira. De tal modo que, por exemplo, quando o meu cavalo mais famoso morreu, o Ferrolho, mandei pendurar a cabeça do bicho na sala e com as patas fiz uma mesa de apoio que ficou espetacular ao pé da lareira. Isto é que é amor aos bichos! As pessoas normalmente só amam os bichos por inteiro, ninguém diz “que bonito meio panda”, ou “o que eu gosto das orelhas do meu pastor alemão”. Nós, toureiros, gostamos dos bichos por partes.

Eu acho que já deviam ter acabado com as touradas, quanto mais não fosse para o senhor saber o que é passar fome. A sua ex-mulher é que o veio defender e disse que o viu dar bifes da vazia aos cães. Aposto que eram da vazia dos galgos.
A minha ex-mulher sabe que eu trato bem os animais.

Eu acho é que ela está com medo de perder a pensão de alimentos e ficar como os canitos.
Acho um exagero toda esta história, os galgos é suposto serem magros. Os meus ainda pesavam quase três quilos. Vá lá, dois, se descontarmos o peso das carraças.

Sabe que num país normal o senhor estava preso, mas também num país normal não havia touradas.
A tourada é cóltura.

Diz-se “cultura”. Mas eu não acho que a tourada seja cultura. Acho que é um desporto parvo que fica ali entre a equitação, a esgrima e a luta greco-romana com bois.
Não tenho paciência para gente antitouradas. Já estou farto desta entrevista, tenho de ir para casa dar milho aos meus rottweilers e um raminho de salsa ao meu boxer.

Cavalgada nada triunfal

A indignação começou com um vídeo que chegou à rede em fevereiro e que dava conta de diversos galgos subnutridos pertencentes a João Moura. O cavaleiro tauromáquico foi detido na sequência do cumprimento de um mandado de busca à sua propriedade em Monforte, distrito de Portalegre, e foi-lhe instaurado um processo criminal por suspeitas de maus-tratos a cães. Foi constituído arguido e saiu em liberdade com termo de identidade e residência.