Jorge Manuel Lopes

Da utopia ao totalitarismo

Documentário escolhido por Jorge Manuel Lopes.

Eles foram cruciais a criar o mundo virtual em que se vive e estão alarmados com o rumo das coisas. São esmagadoramente homens, brancos, e todos parecem ter brotado de Silicon Valley, Califórnia, Estados Unidos. Protagonizam “O dilema das redes sociais”, um documentário realizado por Jeff Orlowski. Gente que esteve na génese da realidade virtual, que trabalhou em posições de relevo no Twitter, Snapchat, TikTok, Google, Facebook, Pinterest, Mozilla, Instagram, YouTube, Uber, Firefox. Como Tristan Harris, antigo especialista em ética do design na Google. Ou Justin Rosenstein, programador que concebeu o botão de “gosto” no Facebook.

Há semelhanças no percurso destes especialistas, vários deles agora ligados ao Center for Humane Technology, organização sem fins lucrativos focada na aplicação de princípios deontológicos à tecnologia de consumo. Primeiro maravilhados com o potencial positivo, os mundos generosos e alegremente anárquicos da World Wide Web; depois em estado de alerta com a bola de neve colocada a rolar pelos gigantes da tecnologia, uma bola de neve com vida própria que propaga desde capitalismo de vigilância a fake news. O produto aqui negociado, garante quem já esteve dentro da máquina e garantem diversos investigadores e académicos ouvidos, é a nossa atenção. Somos todos cobaias de um exercício de manipulação comportamental, programados como um computador. Fala-se de informação à la carte que conduz à polarização política, de um deserto de regulamentação, do aumento a pique dos casos de depressão e suicídio entre adolescentes americanos na última década, do receio de que o scroll infinito possa conduzir a guerras civis, ao colapso de democracias, ao caos ambiental e económico.

Um filme persuasivo, um sobressalto, mais quando se foca nos especialistas do que nas cenas dramatizadas. A conclusão? Temos que mudar tudo.