Apito: o som a seu dono

As capacidades auditivas de certos animais estão a um nível diferente daquele que o Homem pode alcançar. Por outras palavras, há quem ouça o que não conseguimos ouvir e há quem consiga responder a esses sinais impercetíveis. Encaixa aqui um apito que, graças à frequência de som que emite, jamais poderá ser escutado por quem o sopra, mas é sempre alcançado por quem o escuta.

O mérito de inventar tal aparelho vai inteirinho para o antropólogo e matemático britânico Francis Galton, elevado à categoria de Sir pelos méritos dos estudos com que contribuiu para o avanço da ciência. Primo do renomado Charles Darwin, responsável pela Teoria da Evolução, Galton publicou em livro, em 1883, as conclusões de uma longa investigação sobre o grande mistério ao qual dedicara boa parte da sua vida: seria possível encontrar forma de emitir sons em frequências impossíveis ao ouvido comum, apenas disponível para alcançar até uma média máxima de 18 kilohertz (khz)? E anunciou que, sim senhor, estava o caminho encontrado para desbravar tal óbice do conhecimento através de um pequeno e fino tubo em latão que, por uma pequena fenda, conseguia lançar a tal sinalização ultrassónica a que só animais, como cães ou gatos, estão naturalmente habilitados. Mais ainda: concebeu uma forma de conseguir variar as frequências, de forma a poder adaptá-las a diferentes fins e espécies, tudo isso experimentado após horas e horas passadas no Zoo de Londres, onde discretamente testou o invento.

O Apito de Galton, que assim viria a ser batizado em homenagem ao criador, permite emitir o que apenas cães e gatos estão aptos a ouvir. No caso dos cães, o nível de audição chega aos 45 khz (mais do dobro do ser humano), enquanto os gatos vão ainda mais longe nestas capacidades, até aos 64 khz (mais do triplo). A grande vantagem é que os donos podem, com um simples sopro inaudível a terceiros – por isso nada incomodativo -, comunicar com os respetivos animais de companhia, dando-lhes ordens de forma sibilina. Seja onde for, sem distúrbio algum.