Para quem é pouco sociável, iniciar ou manter uma conversa com desconhecidos pode ser um desafio. Não saber o que dizer, ter medo de fazer comentários infelizes ou a dificuldade em vencer a timidez faz que muita gente "entre muda e saia calada" de eventos sociais nos quais não se sente confortável. Se faz parte deste clube, aqui ficam ideias para desbloquear a conversa.
Há quem tenha o dom da palavra, seja extrovertido e perito em fazer sala, a chamada conversa de circunstância. São aquelas pessoas que entram numa festa onde não conhecem ninguém e saem de lá com meia dúzia de novos amigos, depois de terem conversado animadamente com metade das pessoas presentes, fazendo comentários inteligentes, contando experiências enriquecedoras e distribuindo tiradas espirituosas que fazem a conversa social parecer sempre fácil e fluida.
Mas por cada «animal social» destes há meia dúzia de «peixes fora da água»: pessoas que acabam por ficar no seu canto, entretidas com uma bebida ou com o telemóvel, para disfarçar o constrangimento, sentem-se intimidadas com desconhecidos, têm dificuldade em abordar alguém ou iniciar uma conversa e, apesar de serem inteligentes e interessantes, não conseguem ter oportunidade de mostrar isso.
O nosso pior inimigo somos nós próprios, sobretudo se tivermos uma autoperceção distorcida, que afeta a nossa autoestima
«É importante saber conversar com toda a gente, praticando aquilo a que os ingleses chamam, muito acertadamente, de small talk [conversa pequena]. Faz parte do “saber estar” – em todos os lugares e ocasiões – projetando uma imagem positiva», diz Isabel Amaral, especialista em imagem, protocolo e comunicação e autora dos livros Imagem e Sucesso e Imagem e Internacionalização (edição Verbo).
A autora lembra que embora seja fácil fazer conversa de circunstância num ambiente de negócios, bastando para isso fazer algumas perguntas que demonstrem interesse (Fez boa viagem? Quando chegou? Está bem instalado? Aceita uma bebida?) antes de passar aos negócios propriamente ditos, já nem toda a gente tem a mesma facilidade quando está fora da sua zona de conforto, sobretudo em ocasiões sociais.
O nosso pior inimigo somos nós próprios, sobretudo se tivermos uma autoperceção distorcida, que afeta a nossa autoestima. «Se não se acha interessante dificilmente conseguirá passar essa perceção para o exterior», diz Isabel Amaral. Mas quem já sabe que tem esta dificuldade social pode contorná-la fazendo o trabalho de casa, ou seja, pensando antecipadamente em alguns tópicos sobre os quais se sente confortável a falar.
Para causar uma boa impressão, como aconselha a especialista em imagem Isabel Amaral, é essencial cultivar «os três bês»: bom senso, boa educação e bom gosto
Por outro lado, faz sentido fazer uma gestão das expetativas perante si próprio e não elevar muito o grau de autoexigência. «Tente relaxar e não se preocupar se não lhe ocorrer nada fascinante: ninguém está à espera que diga nada memorável durante esta fase da comunicação. Em conversas curtas, o conteúdo tem pouca importância. A impressão que deixa no outro é que conta», explica a especialista.
E para causar uma boa impressão, como aconselha no seu livro Imagem e Sucesso, é essencial cultivar «os três bês»: bom senso, boa educação e bom gosto. «O bom senso vai guiá-lo na escolha dos temas a abordar – não deve falar, por exemplo, de política, nem de dinheiro, nem de religião com pessoas que acaba de conhecer. A boa educação manda que não interrompa uma conversa entre duas pessoas e ajuda a saber como deve dirigir-se à pessoa com quem quer falar e o bom gosto passa por nunca se gabar, não fazer perguntas invasivas, nem criticar ninguém.»
Saber conversar não é apenas saber falar, mas também – e sobretudo – saber ouvir, dando espaço ao outro
Se há alguém que tem também bons conselhos para dar sobre «fazer conversa» é Debra Fine, autora de best-sellers como The Fine Art of Small Talk e Fine Art of Confident Conversation (A Arte de Conversar e A Arte de Conversar com Confiança, numa tradução livre, obras sem edição em português). E a sua dica número um para fazer conversa é esta: pergunte às pessoas coisas sobre elas, não há nada de que as pessoas gostem mais de falar do que sobre si próprias.
Saber conversar não é apenas saber falar, mas também – e sobretudo – saber ouvir, dando espaço ao outro. Debra Fine deixa nos seus livros e palestras outras dicas que podem ser úteis, como ficar atento à linguagem corporal do outro – e não apenas à verbal –, fazer contacto visual e aproveitar as perguntas que lhe são feitas para desenvolver um pouco o tema, em vez de responder de forma demasiado assertiva, apenas com duas ou três palavras.
Isabel Amaral garante que importante é interessar-se pelos outros. «Todos gostamos que se interessem por nós e todos temos coisas em comum. Se conseguir descobrir quais são as paixões da pessoa que lhe calhou ao lado na mesa, o difícil vai ser fazê-la parar de falar. E se tiverem uma paixão comum, melhor ainda.»
COMO COMEÇAR UMA CONVERSA?
Para muita gente o problema não é manter uma conversa, mas sim iniciá-la. Como se pode quebrar o gelo e começar a conversar com um desconhecido? Estas são as sugestões da especialista em imagem, protocolo e comunicação, Isabel Amaral.
- Falar do tempo é um lugar-comum, mas um tema sempre seguro para arrancar uma conversa com desconhecidos, sobretudo se o evento decorrer ao ar livre.
- Se só conhece o anfitrião peça que o apresente a outras pessoas. Pode começar a conversa perguntando: «Já conhece Fulano (o anfitrião) há muito tempo?». Depois conte como o conheceu ou conte uma história divertida que viveram juntos.
- Se não conhece mesmo ninguém, o melhor é abordar alguém que também esteja sozinho e com ar perdido. Apresente-se olhando para a pessoa e sorria. Não diga apenas o seu nome: acrescente qualquer coisa que possa vir a transformar-se num tema de conversa.
- Comente o evento e faça elogios: «Já conhecia este restaurante? Estou a gostar muito deste ambiente, da decoração, da vista, etc.» Se for em casa de alguém gabe os anfitriões ou a comida.
- A comida é sempre um ótimo tema para conversa. Meta conversa com alguém que esteja junto à mesa: «Já provou estes croquetes? São uma delícia!»
- Se a pessoa demonstrar desinteresse pelos seus temas de conversa, despeça-se educadamente e procure outro interlocutor.