Terrários de encantos mil

Texto de Filomena Abreu

Foi há quatro anos mas é como se tivesse sido hoje. Francisca Almeida entrou numa loja do Porto e ficou “deslumbrada”. Não resistiu e acabou por levar um dos muitos terrários que viu. O impulso da compra deveu-se às recordações de criança, em que, debruçada sobre a banca, “esperava que o feijão vermelho brotasse do algodão em rama”.

Há nesse exercício de memória a descoberta de “um amor e carinho pelas plantas” que nem ela sabe explicar. Por isso, naquele dia, foi como se um príncipe encantado lhe tivesse aparecido à frente. Bom, talvez não fosse bem como um príncipe, mas o encanto mantém-se.

Certo é que, curiosa, acabou por meter mãos à obra, e, pouco tempo após a aquisição, fez ela um terrário, que acabou por oferecer. Em troca, meses depois, recebeu um livro sobre o tema. Foi como regar uma planta, que cresceu e cresceu. Claro que a correria dos dias acabou por lhe atropelar os desejos e os muitos terrários que tinha em mente acabaram por ficar esquecidos na lista das coisas a fazer.

Porém, garante, não vai deixar as plantas de lado e justifica: “Prometi a uma grande amiga, a quem falo de terrários de vez em quando, que lhe faria um”. As sementes de coentros e salsa já foram plantadas. Que nisto do fazer com as próprias mãos ainda a leva a ser mais exigente na criatividade.

Os planos estão, por isso, traçados. Assim que crescerem, as plantas irão conhecer um espaço acolhedor para viverem. Porque os terrários são isso mesmo: “Pequenos jardins encantados resguardados num recipiente. Silenciosos, mas vivos”. E é provavelmente aí que reside a sua grande magia.

Tudo começou com uma borboleta

Os terrários surgiram no século XIX em Inglaterra. Foram criados, quase por acidente, pelo médico e cirurgião Nathaniel Bagshaw Ward, que, ao observar o casulo de uma borboleta no interior de uma garrafa com terra, percebeu que a raiz de uma planta tinha brotado e florescido dentro do recipiente. Por curiosidade, o médico testou outras espécies e percebeu que, com luz e humidade, era possível haver vida naquelas condições durante muitos anos.

A partir daí, a fama dos terrários espalhou-se rápido. Por volta de 1830 tornou-se sensação entre os nobres e um item de decoração obrigatório nas casas e escritórios da alta sociedade. O que levou a outro apontamento histórico curioso. É que desta forma descobriu-se como transportar com sucesso plantas exóticas em longas viagens de navio, como as expedições botânicas. Esses ecossistemas autossuficientes foram batizados de Caixas de Ward e precedem os terrários que hoje conhecemos.

“Atualmente, fechados ou abertos, têm a vantagem de trazer a natureza para bem perto”, explica Filipe Forte Faria, engenheiro agrónomo e jardinista, proprietário da Arboreto, uma empresa sediada no Porto que trata jardins interiores e exteriores em todo o país. “Esses micro jardins, ou florestas encapsuladas, são ecossistemas em miniatura mantidos dentro de um recipiente transparente, onde se reproduzem as condições ambientais necessárias ao bem-estar de diferentes seres vivos.”

O jardineiro defende que “dão vida ao ambiente”. Além disso, “são lindos, práticos, fáceis de cuidar e podem durar anos”. Mas, como tudo na vida, exigem cuidado e dedicação. “As plantas são retiradas do ambiente natural para os terrários e estes podem depois ser colocados em espaços mais aquecidos ou mais frios.” Por essa razão, cuidar dos terrários exige paciência. “Não é só deitar um bocado de água e já chega; é preciso ter em atenção a quantidade que devem receber, bem como a luz direta que apanham.”

E atenção: um terrário selado permite a circulação de água mas deve ser aberto, pelo menos, uma vez por semana para remover o excesso de humidade do recipiente, “evitando assim o aparecimento de fungos e micróbios que possam ‘matar’ as plantas”. Filipe Forte Faria sublinha que é preciso “sensibilidade” para ter um terrário, bem como a consciência de que são “exigentes ao nível da manutenção”.

De resto, sendo móveis, podem ficar bem em qualquer lado. Na sala e na cozinha, no átrio e na casa de banho. Pousados sobre móveis ou suspensos. Um bibelô que ajuda a construir cenários divertidos e originais.

Uma vez que poderá não encontrá-los já prontos em loja, há sempre a possibilidade de usar revistas de decoração e a Internet para se inspirar e montar os seus próprios micro jardins. Depois, é só comprar os materiais, que não são caros e se encontram em lojas de artigos para a casa.

Não há limites na secção da criatividade. Podem ter diversos tamanhos e formas, tudo dependendo dos gostos. Há quem use aquários redondos, quadrados e retangulares. Mas também é possível fazê-los em chaleiras, lâmpadas, copos, chávenas, frascos.

Todos os terrários, independentemente da dimensão, deverão levar pedras no fundo do recipiente. Se houver excesso de água, esta escorre e acumula-se nelas, evitando que as plantas fiquem “ensopadas”. O carvão ativo, usado nos filtros dos aquários, servirá para purificar o solo. De seguida, ou em substituição deste, pode colocar areia, que também será útil na drenagem do excesso de água. Depois virá a terra, o cascalho, o musgo ou as pedras. Uma vez que o recipiente consegue manter a humidade adequada às espécies nele plantadas, não é necessário regá-lo intensiva e constantemente. O vidro ou outro material transparente irá permitir a entrada de luz, necessária à fotossíntese.

A escolha das plantas é fundamental. Um terrário pode ter só uma ou várias, dependendo do espaço. Convém que, além de não estarem encavalitadas umas nas outras, não tenham necessidades diferentes, frisa Filipe. As suculentas e os catos poderão dar menos trabalho. Mas há outras espécies que combinam bem com o ambiente doméstico como as samambaias, as orquídeas e plantas aéreas do tipo tilandsias. Abundam os tutoriais online para ajudar na construção passo a passo. Por isso, complicado não é fazer. É mesmo manter.