Esta semana, o nosso entrevistado destas entrevistas que nunca fiz é um a pessoa pouco conhecida em Portugal mas muito procurada no Brasil. O empresário José Carlos Lavouras, que é acusado de corrupção no Lava Jato e com a alcunha de “chefe da máfia dos ónibus do Rio de Janeiro”.
Em Portugal se diz autocarro. Eu sei porque tenho cá uma empresa, a Gondomarense.
Em Portugal é muito comum corruptos terem empresas. Aliás, deixe-me dar-lhe os parabéns porque acho que se mudou para o paraíso dos corruptos.
No Brasil não se pode confiar na Justiça.
Pois, aqui, se, por exemplo, tiver bons advogados pode confiar que vão demorar anos até que se veja a Justiça atuar. A Justiça, em Portugal, além de cega é coxa e leva imenso tempo a fazer seja o que for. Mas faz bem em não voltar ao Brasil que, agora, aquilo com o Bolsonaro está a ferro e fogo. Se eles disparam oitenta tiros sobre um carro com uma família inocente, imagino o que não lhe faziam a si.
Eu faço como o Duarte Lima, nunca mais lá ponho os pés porque vou logo dentro.
Segundo sei, a sua extradição foi recusada porque tem dupla nacionalidade. É aquela velha máxima de que todos os brasileiros têm um avô em Trás-os-Montes.
Eu sou filho de portugueses.
Então está explicado. Se houve alguma coisa que nós deixamos no Brasil foi o jeito para jogar à bola e para a corrupção. O senhor é o que o Rui Santos denomina com um português bacteriologicamente puro. Se fosse mais novo, ainda era chamado pelo Fernando Santos à seleção.
Por mim, tudo bem, desde que não tivesse que ir jogar um amigável ao Brasil. Fazia como o Ronaldo que não arrisca ir jogar aos Estados Unidos.
Segundo li, o senhor também é dono da Águas de Carvalhelhos. Realmente, se a ideia é lavar massa, nada como uma empresa de água com gás. A Águas de Carvalhelhos é uma empresa reconhecida no setor das águas em Portugal pela qualidade e pureza das suas águas, segundo o site da empresa. Mas realmente não diz nada quanto à pureza dos seus donos.
Eu sou um empresário de prestígio em Portugal.
É verdade, aliás, só lhe falta ser condecorado pelo presidente da República para ter o estatuto de um Zeinal Bava ou de um Henrique Granadeiro.
Nem pensar. Ser condecorado pelos vossos presidentes da República não é currículo, é cadastro. Prefiro não arriscar.
Mas estão todos à solta, como o senhor. Em julho de 2017 foi-lhe decretada a prisão preventiva, no Brasil, no âmbito da operação Ponto Final, mas por sorte o senhor estava em Portugal. Afinal o nome da operação devia ser Reticências. E eu é que devia ser preso por terminar esta entrevista com um trocadilho.