Paulo Trigo Pereira: radical nos costumes, moderado nas contas

Foto: Orlando Almeida/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

É obstinado, racional, mas faz fé na intuição. É reservado e convicto. Afirma-se da esquerda social liberal, “radical nos costumes, moderado nas questões orçamentais”. Da ala direita do PS, acusam comunistas, e dão como exemplo o voto desfavorável ao aumento do salário mínimo nacional, tendo preferido desviar o debate para a sustentabilidade da Segurança Social.

Eleito pelo Partido Socialista, passou à condição de não-inscrito em dezembro de 2018, desagradado com o respetivo grupo parlamentar. “Um homem livre”, diz a socialista Isabel Moreira. Por isso, não estranhou a entrevista publicada nesta semana, no “Negócios”, em que o amigo denuncia a falta de transparência da atividade parlamentar e se interroga sobre privilégios dos deputados.

“O Paulo”, continua Isabel, “tem alguma dificuldade em se adequar a formalismos e procedimentos, é um insatisfeito com as regras do Parlamento e, sobretudo, alguém muito comprometido com os direitos humanos”.

Com a mulher, a investigadora Margarida Faria, fundou a AMPLOS – Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. Matérias que lhe são caras e que contaram com o seu empenhamento enquanto parlamentar.

Margarida – “confidente, conselheira e bem mais sensata do que eu”, diz Paulo – descreve o pai dedicado, o avô atento. “Exímio a trocar fraldas, a dar o biberão à neta a meio da noite.” Alguém que gosta de cuidar “e cuida muito bem”. Quarenta anos de vida conjunta: “O Paulo é muito convicto, teimoso, com uma permanente inquietude que, por vezes, pode ser perturbadora para quem vive com ele”.

Gosta de escalar montanhas. Adora dançar. À séria, “swing, lindy hop”, em festas que organiza. “Faz tão bem ao corpo e à alma”, sublinha.

Frequentou o Instituto Gregoriano com a paixão de quem não sabe viver sem música. O vizinho e filósofo Agostinho da Silva, figura marcante no seu percurso pessoal, dizia-lhe que iria conciliar a música com a economia. Ficou-se pela economia.

Com origens familiares (paternas) em Serpa, primo em 2.º grau de Nicolau Breyner e afastado de Sophia de Mello Breyner Andresen, foi buscar à planície o lado liberal. “Vem daí, daqueles três meses de férias, no verão, a brincar à solta.”

É o mais novo de cinco rapazes, descendente de uma família de matemáticos – a avó materna foi a quarta portuguesa a licenciar-se em Matemática. Cresceu com os desafios de lógica que os pais levavam para a mesa. Gosta, por isso, de quebra-cabeças. “Vejo os problemas de Portugal como de difícil mas possível solução.”

Depois do 25 de Abril aderiu ao MES. Chegaria depois a atividade académica e cívica (desde 1982) e só recentemente a política (desde 2015). “Ser deputado não é entusiasmante”, assume. Admitiria uma recandidatura apenas se visse que poderia fazer a diferença. Pelo PS? Hesita. Depois: “Pelo PSD e CDS não será de certeza”. Nunca votou na direita.

Com uma carreira académica de 30 anos, iniciada logo após a licenciatura em Economia (média final de 15 valores) em 1982, revê-se sobretudo no professor. O deputado do CDS João Almeida foi seu aluno: “Promove um relacionamento informal, mas tem posições muito fortes”. Não é fácil convencer Paulo Trigo Pereira. “Dá muita luta.”