Texto Sara Dias Oliveira
O medo de voar interfere com o organismo e com a cabeça. Nervosismo, insónias, irritabilidade, sensação de falta de ar, preocupação excessiva, tensão muscular e até mesmo perda de peso. Antes de entrar num avião, tudo pode acontecer. Há estudos internacionais que indicam que uma em cada três pessoas tem medo de viajar de avião. Quais as causas? O que fazer?
«A fobia de voo tende a agravar-se com o decorrer do tempo. Pessoas que começam com uma ansiedade ligeira podem chegar a um ponto de total incapacidade para viajar de avião, se não fizerem nada para travar o desenvolvimento da fobia. Assim, quando a intensidade dos sintomas começa a interferir com o bem-estar e qualidade de vida do indivíduo, a limitar as férias com a família ou a condicionar a vida profissional, é aconselhável consultar um técnico de saúde mental especializado», diz à NM Cristina Albuquerque, psicóloga clínica e fundadora e diretora da Voar Sem Medo, o primeiro centro especializado no estudo, prevenção e tratamento da fobia de voo em Portugal.
O medo pode ser ligeiro, moderado ou extremo. E há quem recorra a calmantes ou bebidas alcoólicas para conseguir entrar num avião.
Normalmente, é difícil indicar uma única razão que permita explicar o que está na origem do medo de voar. Os medos não são todos iguais:
- Medo de um acidente
- Medo de mau tempo
- Medo de falhas humanas ou técnicas
- Medo de cair
- Medo da turbulência
- Medo de morrer
- Medo dos ruídos do avião
- Medo de pânico a bordo
- Medo de uma situação que não controla.
Estes são os medos mais frequentes de quem tem medo de voar, de acordo com os resultados preliminares de um estudo que a Voar Sem Medo realizou numa amostra de 670 pessoas.
O medo de alturas, o medo de perder o controlo, o medo de estar em locais fechados ou claustrofobia são frequentes em quem receia entrar num avião.
«À semelhança do que acontece na generalidade das fobias, as pessoas com fobia de voo têm a perfeita noção de que o seu medo é excessivo, irracional e desproporcionado à realidade. No entanto, a verdade é que não conseguem controlar a sua reação emocional quando chega a hora de andarem de avião.» E a emoção vence a razão.
Ninguém nasce com medo de voar. Esse medo é adquirido por aprendizagem. Uma criança que vê que o pai ou a mãe têm medo de voar, desde cedo que vai associar o avião a uma coisa perigosa e terá maior propensão para desenvolver o problema.
«Contudo, a predisposição para a aerofobia pode também estar associada a um ‘fator de vulnerabilidade genética’. Filhos de pais ansiosos tendem a apresentar maior excitabilidade do sistema nervoso e, por conseguinte, uma maior predisposição para desenvolver perturbações da ansiedade», explica Cristina Albuquerque, também psicoterapeuta cognitivo-comportamental e autora do livro Voar Sem Medo.
Cursos, aplicações, voos terapêuticos
O primeiro passo para lidar com o problema é reconhecer que ele existe. O medo de voar pode ser ligeiro, moderado ou extremo. De um friozinho na barriga até uma fobia de voo paralisante. Do desconforto e ansiedade, a uma recusa a viajar de avião. O espetro é largo.
«Quem não assume que tem medo de voar não está disponível para resolver o problema. Pelo contrário, continua a forçar-se a fazer viagens de avião na esperança de que o medo desapareça de forma mágica. Esta insistência em viajar sob o efeito do medo é geralmente contraproducente e o mais certo é agravar a situação. Voo após voo, o indivíduo vai consolidando e aumentando o medo até que um dia, dominado pelo pânico, desiste completamente de voar», diz a especialista.
Negócios não consumados, luas-de-mel alteradas, recusas de empregos, mudanças de férias. Tudo pode acontecer resultado da fobia de viajar de avião.
A Voar Sem Medo desenvolveu materiais de autoajuda: o livro Voar Sem Medo, que reúne informação sobre aspetos técnicos da aviação, explica os mecanismos psicológicos que estão subjacentes ao medo de viajar de avião, e ensina técnicas para autocontrolo da ansiedade.
A aplicação Medo de Voar, que pode ser descarregada para iPhone e Android, uma ferramenta que pode ser utilizada antes e durante o voo, uma espécie de terapeuta a bordo. E para quem tem um quadro fóbico incapacitante, há um curso terapêutico de três dias com voo terapêutico incluído.
«Quem mais pede ajuda para resolver o problema são aqueles cujas vidas começam a ficar afetadas pelo problema e não querem condicionar as suas opções pessoais ou profissionais», diz Cristina Albuquerque.
Há também o Check-in Voar Sem Medo, ou seja, um minicurso de quatro horas para quem quer saber mais sobre o funcionamento dos aviões, com recomendações para desfrutar da viagem aérea tranquilamente e sem sobressaltos.
O tratamento individual é composto por seis a 10 sessões semanais. No caso da intervenção em grupo, com um máximo de 12 pessoas), a intervenção é intensiva e dura três dias completos. O tratamento é conduzido por uma equipa pluridisciplinar composta por psicólogos, pilotos, tripulantes de cabine, especialistas em manutenção aeronáutica e controladores de tráfego aéreo.