Maria Irene Zenhas: Uma vida pelos outros

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Texto de Sara Dias Oliveira

Maria Irene Zenhas fundou uma instituição pioneira no Rio Grande do Sul, Brasil. A Casa do Excepcional Santa Rita de Cássia, organização não-governamental, sem fins lucrativos, nasceu para receber crianças com lesões cerebrais, que precisam de cuidados especiais e permanentes, sem meios financeiros para os tratamentos. Neste momento, acolhe crianças, adolescentes, adultos, com deficiências severas e profundas, que precisam de casa. “Sinto-me realizada, feliz e completa a cada dia, pois esta casa faz parte da minha vida e da minha história, cuidando de crianças como se fossem os filhos que não tive. A minha realização completa-se quando conseguimos recuperar uma criança que chega sem as mínimas condições, sem se alimentar, falar, locomover, entre outras tantas deficiências”, conta a partir do país onde vive há mais de seis décadas.

No ano passado, o Governo português atribuiu a Maria Irene a comenda oficial da Ordem do Mérito, no ano anterior foi nomeada cidadã honorária da prefeitura de Porto Alegre. Os municípios em redor têm reconhecido e homenageado o seu trabalho voluntário e a assistência aos mais desfavorecidos. Aos 85 anos, continua com energia para cuidar dos outros. “O meu maior sonho é conquistar Portugal para ser parceiro do nosso trabalho, que é muito difícil. Amo o que faço e descobri que o amor não tem fronteiras.”

Maria Irene Zenhas nasceu na aldeia de Bustos, em Oliveira do Bairro, distrito de Aveiro, e ainda criança mudou-se com os pais para Aveiro. “Tive uma infância feliz nas terras portuguesas.” Aos 19 anos, casou-se e recebeu como prenda de casamento uma viagem ao Brasil, de um tio que lá morava, proprietário de um engenho de arroz e um dos fundadores do Hospital de Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre. O casal faz amigos, participa em grupos que debatem assuntos relacionados com as comunidades mais necessitadas, envolve-se em ações solidárias, decide ficar no Brasil. E os apoios iam aumentando. “Neste percurso, entre várias ações desenvolvidas, fui procurada por mães desesperadas que não tinham onde morar e também deixar os seus filhos que eram portadores de deficiências severas e profundas”, recorda. Tudo isso foi um incentivo para fundar uma instituição que opera há mais de 40 anos. “Talvez porque a fruta não cai longe do pé, inspirada no exemplo familiar, encontrei uma forma de me tornar útil, fazendo o que eu gosto, até aos dias de hoje e até onde Deus me permita viver.”

Olha para Portugal com amor, orgulho, admiração. “Tenho muita saudade da minha terra querida, meu Portugal, que me viu nascer e desbravar mares. Em momento algum esqueço as minhas raízes.” É uma portuguesa que vive noutro país e que tem um desejo especial. “Sonho com o dia em que todas as crianças, adolescentes e idosos sejam atendidos com condições dignas de sobrevivência.”