Einstein, Sandra Bullock, Diana ou Frida Kahlo. Qual é o seu perfil?

Texto de Filomena Abreu

Triângulos na cabeça. Losangos no peito. Números, linhas, cores. Símbolos que ladeiam a figura central da folha A4. Tudo é uma fórmula única que resulta da combinação das “partículas subatómicas ínfimas da informação individual”. Simplificando: data, hora e local de nascimento. Representa a nossa definição genética, quem somos dentro do Universo. Um desenho complexo. Na verdade chama-se “mapa do ser”. É a “forma lógica de nos vermos por dentro”.

Quem o diz é Idalina Fernandes, a analista certificada que neste fim de semana (2 e 3 de novembro) apresenta no Palácio da Bolsa, no Porto, a primeira Conferência Ser Humano em Portugal. Tudo sob o chapéu do Human Design, uma ferramenta de bem-estar e desenvolvimento pessoal que aborda áreas tão diversas como a saúde, bem-estar, gestão de empresas e educação. É ainda pouco conhecido no país mas já leva 32 anos nos Estados Unidos, Rússia, Japão e China. A sua origem combina mística com conhecimentos ancestrais e princípios da física quântica, genética, I-Ching e sistema hindu de chacras.

Decisões claras e fiáveis

Tudo começou com Ra Uru Hu, que nasceu Alan Krakower em Montreal, Canadá, em 1948. Formou-se em artes, trabalhou na publicidade e comunicação, deu aulas em Ibiza. Em janeiro de 1987 disse ter tido “uma experiência mística repentina e inesperada, seguida de um encontro com ‘uma voz’, uma inteligência muito superior a tudo o que já havia experimentado”. Desse “encontro”, que durou oito dias, diz ter recebido as informações para pôr em prática o que hoje é conhecido como Human Design. Uma forma de viver a vida “mais saudável”, que se baseia “na tomada de decisões conscientes” e que “potencia a evolução pessoal e profissional, individual e coletiva através do alinhamento da natureza única ou geometria de cada ser”.

Idalina conheceu o Human Design há 15 anos por acaso. Tinha 34 anos, era gestora de formação e vivia na Alemanha. A primeira consulta deixou-a curiosa. “As coisas que na altura disseram sobre mim fizeram sentido.” Começou a ler mais, a querer ir mais longe. Fez os níveis todos de formação e tornou-se analista e professora certificada em Human Design pela International Human Design School.

Hoje, é das poucas pessoas em Portugal habilitadas para dar consultas. Tem uma base de dados de três mil pessoas, 60 a 70% em fase de acompanhamento, as restantes em primeiras consultas. Consultas em que se aprende a “viver de acordo com a nossa essência, livres de condicionamentos que prejudicam a tomada de decisões claras e fiáveis”.

Voltemos ao início. Quem se senta em frente a Idalina – pode ser uma só pessoa, um grupo, um casal, famílias, etc. – no número 264 da Avenida do Bessa, no Porto, já deu previamente a data, hora e local de nascimento. Assim que se instala é-lhe colocada uma folha à frente, o “desenho do ser”, que resulta dos dados fornecidos à analista. “Informação única, prática e com potencial transformador que abre portas para uma nova etapa de autoconhecimento.” O gráfico gerado ilustra a pessoa e o seu projeto. Segue-se cerca de uma hora em que o “paciente” não fala, só ouve o eco do que as informações dizem sobre a sua natureza. Um monólogo gravado para ouvir depois. Pelo menos uma vez por semana. “Porque há sempre informação que não assimilamos da primeira vez.”

A cada pessoa associa-se uma estratégia. “Um comportamento que não se adequa a essa estratégia gera fricção ou resistência nas pessoas em redor. Por sua vez, uma estratégia adequada torna a vida numa experiência mais positiva e naturalmente eficaz.”
Por norma, as consultas realizam-se de seis em seis meses. Cada uma custa 100 euros e a agenda está cheia até janeiro. “Estamos a trabalhar para diminuir esse tempo de espera, com a formação e certificação de um novo elemento.”

Desconstruído e desmascarado

O passa-palavra fez a sua parte e há quem esteja curioso. Por isso, refere Idalina, “a conferência vai acontecer para dar respostas claras e corretas a muitas questões que as pessoas têm vindo a colocar”. Outro objetivo é chegar a mais gente. “O Human Design serve para todos. Pode ser aplicado às organizações e às famílias, para melhorarem a sua saúde e bem-estar.” Organizações? “É possível guiar empresas produtivas com base na diferenciação dos trabalhadores. Beneficiam ambos”, assegura Idalina Fernandes.
Essa diferenciação assenta em quatro perfis: geradores, que correspondem a 70% da população, como Einstein; projetores, 20 % da população, como a princesa Diana; manifestadores, 9 % da população, como Frida Kahlo; e refletores, 1 % da população, caso de Sandra Bullock (ver abaixo).

Há gente familiarizada com o Human Design e que pode falar da sua experiência. O escritor Manuel Clemente, 30 anos, de Lisboa, teve a primeira consulta em fevereiro de 2016. Um amigo falou a outro amigo que lhe falou. Antes de aqui chegar já tinha experimentado o tarot e a leitura da aura, por exemplo. “Saí da primeira consulta com a sensação que estava a ser desconstruído e desmascarado por uma pessoa que me conhecia melhor do que eu. E desde então tem-me ajudado a entender melhor como sou e como devo viver. Claro que a história do Human Design é mística, mas isso não me preocupa muito porque no dia-a-dia faz sentido. É como um manual de instruções. Tenho vivido de forma mais saudável, com mais propósito e satisfação.”

Esse “fazer sentido” é comum. Raquel Reis, 44 anos, uma das oradoras da conferência deste fim de semana, também o sentiu. “O que nos é dito bate mesmo certo com quem somos.” Agora, o Human Design está presente nas ações que assume na vida. Como trocar de carro. “Se fosse antes, tomava uma decisão a quente, agora sou muito mais ponderada.” Raquel, dedicada a métodos de autoconhecimento, já fez psicoterapia e psicanálise. “Com o Human Design não vamos ao passado. Trabalhamos com o presente, é mais prático. E tem-me ajudado a perceber a minha força e a viver a vida com mais verdade e com mais amor.”

Perfis

Manifestadores
Têm como papel fundamental a iniciativa da mudança, procurando eliminar resistências que encontram e preparar o impacto da transformação. Alguns exemplos famosos deste grupo são Hitler, Frida Kahlo, Jack Nicholson e Robert De Niro.

Geradores
São os que constroem, constituindo a força do Planeta com o seu trabalho. Cabem neste perfil Albert Einstein, Dalai Lama, João Paulo II, Bill Clinton.

Projetores
Têm uma profunda capacidade de conhecimento e entendimento dos outros. Quando o seu papel é reconhecido, funcionam como uma espécie de guia: Salvador Dalí, Fidel Castro, James Joyce, princesa Diana.

Refletores
Uma minoria que inclui Fiódor Dostoiévski ou Sandra Bullock. Vivem totalmente abertos ao Mundo e aos outros, funcionando como um espelho do que se passa em seu redor. Tal abertura dá-lhes um grande potencial de sabedoria, mas chegam a tornar-se praticamente invisíveis, pela forma como absorvem o contexto em que se encontram.