Cristóvão Campos: “nem sempre sou bom a cuidar dos que mais gosto”

Foto: Orlando Almeida/Global Imagens

Por Sara Dias Oliveira

Vejo bem… No espelho temos tendência a reparar nos defeitos. Talvez seja da nossa natureza. Sou atento. Desde pequeno que sou atento aos pormenores que fazem de cada coisa aquilo que é, atento àquilo que me rodeia. Aprendi e continuo a aprender muita coisa só pela observação. Gosto da novidade. Sou curioso. Estas duas virtudes unem-se noutra coisa que faço com muito prazer que é trabalhar. A criação dá-se quando algo nos inquieta e isso não tem hora para começar nem para terminar. Gosto muito dessa inquietação. Gosto muito de aprender. Na construção de um papel, na busca e execução da banda sonora para uma peça de teatro, gosto de unir a atenção que deposito no objeto em questão à curiosidade que o mesmo me suscita e criar algo novo.

Vejo mal… Há rugas que nos marcam defeitos. Estas que tenho entre as sobrancelhas são fruto da impaciência. Não sou muito paciente com as coisas. Existe um efeito de espelho nas nossas qualidades, o outro lado delas. Por isso, apesar de gostar de trabalhar, sou muito mau com o começo. O arranque de qualquer empreendimento é penoso e a procrastinação normalmente é quem manda. Tenho tendência para a melancolia prolongada, às vezes um pessimismo interior (que dizem não ser visível) apodera-se de mim. Nem sempre sou muito bom a cuidar dos que mais gosto, a dar-lhes atenção. Tenho a sorte de gostarem de mim e de descontarem mais este defeito.