A cana que engana o peixe

Texto de Sara Dias Oliveira

A pesca é uma atividade milenar, a sobrevivência apura o engenho, cada técnica tem a sua ciência. Se há peixes nos mares, se há peixes nos rios, então há que puxá-los para o prato, sem molhar os pés de preferência. A cana de pesca é um dos principais instrumentos de pesca lúdica e desportiva. Aperfeiçoada ao longo do tempo, tornou-se mais robusta e com um visual mais moderno durante o século passado, mantendo intocável a sua função primordial. Com uma cana, aprende-se a pescar, mas há técnica à mistura e aquela sensibilidade para sentir quando o peixe morde o isco e a vara ganha vida.

Desde que o homem é homem, desde que o peixe é peixe, que se percebeu como a história ia acabar. Truque atrás de truque, mãos na água para apanhar peixes esguios e escorregadios, estratégias e mais estratégias, fios, redes, varas, e a arte da pesca foi ficando cada vez mais requintada para puxar o alimento. Tudo é importante para melhorar a performance. Canas mais leves ou mais pesadas, mais ou menos flexíveis, adaptadas às necessidades de cada cenário, para águas mais calmas ou mais doces, mais instáveis ou salgadas, conforme o estilo ou modalidade.

Parece simples, só que esta arte tem o que se lhe diga. As canas podem ser de bambu, de grafite, de fibra de vidro ou de carbono, ou uma combinação de vários materiais. A comodidade e o menor esforço de quem pesca são fatores a ter em conta. Tal como a resistência das linhas e a capacidade do peso, determinantes no desempenho para que o fio não quebre a vara e para que os gramas ou os quilos dos peixes não sejam um problema ou uma dor de cabeça. A ação é outro fator essencial que indica o ponto em que a vara começa a vergar em função de uma determinada força porque é a linha que tem de suportar o peso do que se arremessa e se retira da água.

O corpo da cana é pensado ao detalhe. O molinete, ou carreto, é o tal mecanismo que enrola a linha ou o fio que puxa o peixe, dando-se à manivela. Dentro, há engrenagens e rolamentos que tanto amortecem os puxões dos peixes, sobretudo os de grande porte, como resolvem qualquer atrito quando se puxa da água para a terra.

Nos últimos 40 anos, houve uma grande evolução com alta tecnologia e processos de fabrico bastante precisos para, por exemplo, desenhar punhos mais anatómicos e prevenir a corrosão do salitre. O material e o formato não podem oferecer fricção ou resistência à passagem da linha. E, passo a passo, as canas de pesca tornaram-se mais fortes, mais resistentes, mais eficientes na sua tarefa. Leveza, conforto e resistência são atributos importantes e a ergonomia da cana influencia o equilíbrio e a forma de a manusear.

Cana a cana, peixe a peixe, se enche o saco. E tudo depende de onde se pesca, que tipo de pesca se quer praticar, que peixe se quer apanhar. Para cada pescador, uma cana, uma cana sensível ao toque do peixe. Em qualquer caso, convém zelar pela saúde do equipamento e, a cada jornada de pesca, verificar se há peças partidas, remover a sujidade e a gordura acumuladas, lavar com água e sabão neutro, secar à sombra, e colocá-la ao alto, na vertical, para que o corpo não entorte. Para que mantenha a espinha dorsal direitinha. Até à próxima pescaria.