Pedro Sánchez: perfil de um político duro, apostador do “tudo ou nada”

Texto de Alexandra Tavares-Teles e foto de Susana Vera/Reuters

Dois de junho de 2018: apenas um dia depois da bem-sucedida moção de censura contra Mariano Rajoy, líder do Partido Popular, Pedro Sánchez é investido presidente do Governo de Espanha, o sétimo chefe de governo do período democrático atual.

Político “duro”, com “uma enorme confiança” em si próprio, “alguém capaz de interpretar mudanças e adaptar-se a elas”, apostador do “tudo ou nada”, impermeável a diretrizes alheias e avesso a que lhe marquem o passo, é protagonista de um percurso político raro – a imprensa espanhola fala em “ascensão, queda, ressurreição, declive e chegada a Moncloa” de alguém que em ano e meio passa de derrotado pelo próprio partido a vencedor.

Este homem de 46 anos e 1,90 metros é licenciado em Ciências Económicas e Empresariais e doutorado em Economia e Empresa. De uma família de classe média/alta, nasce em Tetuán, bairro madrileno muito heterogéneo, o distrito com maior contraste socioeconómico: ao lado de famílias com poder económico acima da média da capital espanhola encontra-se uma população imigrante a necessitar de integração.

Talvez por isso, fascina-se pela política bem cedo, nos tempos liceais de jovem basquetebolista. Conselheiro municipal em Madrid durante cinco anos (de 2004 e 2009), ganha dimensão na cadeira de deputado. De tal maneira que assume, em 2014, a liderança do PSOE. Trata-se porém de um partido fragilizado, incapaz de bater os populares de Rajoy nas eleições de dezembro, realizadas no ano seguinte. A tentativa de criar uma aliança à semelhança da geringonça lusa, com o Podemos e o Cidadãos, falha. E desastre maior vem depois, em junho de 2016, quando, de novo nas urnas, o partido regista o pior resultado desde 1977.

Deposto pelos seus, é dado como politicamente morto. Exagero comprovado em maio de 2017, quando, aclamado pelos seus, é recolocado na liderança do partido. Daí a 2 de junho é um pulo: Palácio de Zarzuela. Pedro Sánchez, líder de PSOE, jura fidelidade diante de Filipe VI e de um exemplar da constituição. Pela primeira vez na Espanha democrática, a bíblia e o crucifixo (opcionais a partir de 2014) ficam de fora da tomada de posse de um político capaz de tomar a seu favor os erros dos adversários e que faz história ao protagonizar a mais rápida transição de poder da democracia espanhola.