Pais: é por isto que devem deixar as crianças mascarar-se de Batman

Texto NM | Fotografias da Shutterstock

O ESTUDO

Uma pesquisa levada a cabo por psicólogos das universidades da Pensilvânia, Minnesota e Michigan, nos EUA, publicada na revista Child Development no final de 2016, descobriu que crianças entre os 4 e os 6 anos disfarçadas das suas personagens favoritas – entre as quais o Batman, Rapunzel, Dora a Exploradora e Bob o Construtor –, longe de se distraírem com facilidade, eram mais determinadas a realizar tarefas aborrecidas do dia-a-dia do que outras crianças não mascaradas.

BATMAN

A isto, os cientistas chamaram o «efeito Batman». E sim, confirmam: disfarçar-se deste ou outro herói, vestindo literalmente a personagem, é muito diferente de a criança brincar com um boneco do homem-morcego, na medida em que pode «sair» daquilo que é, das suas características pessoais, do que toda a gente espera dela, e agir como a sua personagem preferida. Com tradução direta ao nível da performance.

DESEMPENHO

Diante dos resultados, os pais ficam já a saber que deixarem que os filhos assumam outras identidades pode ajudá-los a trabalharem com maior afinco, a distraírem-se menos e a serem mais persistentes nas tarefas que têm em mãos. Tudo indica que assumirem essa pele da personagem lhes permite distanciarem-se o suficiente para conseguirem ver as coisas de outra perspetiva – incluindo objetivos mais de longo prazo.

PERSISTÊNCIA

Segundo os investigadores, a perseverança é uma qualidade necessária ao longo da vida de qualquer pessoa: tanto a usam as crianças pequenas que se esforçam por perceber cada letra quando aprendem a ler, como estudantes universitários a estudar química orgânica pela noite dentro. Certo, dizem, é que saber insistir numa tarefa que não nos agrada é muitas vezes essencial para se alcançar o sucesso.

SUPER-HOMENS

Numa outra pesquisa, a psicóloga inglesa Karen J. Pine, da Universidade de Hertfordshire, Reino Unido, já tinha concluído que a roupa que vestimos afeta os nossos processos mentais e perceções, e então se for roupa de super-herói nem se fala. Para demonstrá-lo, pôs os seus alunos a fazer exames dando a alguns deles camisolas de Super-Homem, enquanto outros vestiam camisolas azuis lisas e os restantes roupa normal. Conclusão: os Super-Homens achavam-se superiores e mais atraentes, além de jurarem que conseguiam levantar mais peso se lhes pedissem tal coisa.

BRINCADEIRAS

Brincar melhora os níveis de produção e criatividade, explica a psicóloga educacional Joana Vilar. Está ligado a um conjunto permanente de descobertas que potenciam o desenvolvimento global das crianças – mais até do que o excesso de atividades extracurriculares – e é um dos investimentos mais rentáveis que se pode fazer na educação. «A sua essência não é mais do que explorar o mundo de forma intuitiva e espontânea», diz, sublinhando que mesmo em cenários de guerra as crianças arranjam sempre espaço para a brincadeira. Nem que seja refugiando-se sozinhas na imaginação.

FAZ-DE-CONTA

Se brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento infantil – basta ver na natureza que as crias de todos os mamíferos mais inteligentes o fazem –, a verdade é que apenas os humanos brincam ao faz-de-conta. E o disfarce, aqui, deixa a criança saltar para um nível em que a fantasia se cruza com a realidade, permitindo-lhe por momentos ser essa personagem com que se identifica e exteriorizar os seus comportamentos. Mascarada, ela pode sair dos limites e experimentar o mundo em segurança, ganhar autoconfiança. Além, claro, de se relacionar com os outros com mais aqueles «pós mágicos» que a brincadeira lhe trouxe.