Maria Begonha: a jotinha da polémica

Foto: Sara Matos/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Gosta de fumar, de se deitar tarde, de bossa nova e de jazz. De cozinha italiana, de crumble de maçã. De preto e do inverno. De Hemingway e de sagas – a “Guerra das Estrelas” e “O Senhor dos Anéis”.

De resto, a trilogia cinematográfica baseada na obra de J. R. R. Tolkien, “O Hobbit”, foi o último presente do namorado, Diogo Lseão, ex-dirigente da JS e deputado do grupo parlamentar socialista. Conheceram-se tinha Maria 14 anos, ele 16, apresentados por amiga comum.

Diogo estudava no Colégio Moderno, Maria na Rainha D. Leonor. Já então demonstrava “saber muito bem o que queria”. Recorda uma miúda “lutadora, solidária”. Resiliente, sobretudo. Acusada agora de ter adulterado o currículo para beneficiar de avenças diretas com a Câmara Municipal de Lisboa, nem por isso hesitou na candidatura que apresentou ao XXI congresso da JS, de onde saiu secretária-geral, com 72% dos votos expressos.

À polémica, ampliada nas redes sociais, tema de humoristas – “que Begonha” – “está a reagir surpreendentemente de forma calma”. Diogo justifica o advérbio: “Estranho porque a Maria é bastante emotiva”.

A denúncia seguiu para o Ministério Público (MP), que abriu um inquérito, pela mão de Gustavo Ambrósio, ex-jota. Ambrósio tem na memória o dia em que conheceu “a Cristina Maria” – foi na campanha de Manuel Maria Carrilho, tinham ambos 15 anos, e “ela parecia mais velha, falava de forma formal, muito madura para a idade” -, sabe exatamente os meses que o separam da idade da camarada – seis – e até o dia em que Maria faz anos. Ri. “Por uma simples razão: é o aniversario da minha mãe”.

Nunca se deram bem, acrescenta. Porém, “a denúncia ao MP não tem que ver com esse facto”. Resultou, acrescenta, “de um imperativo”. Ideologicamente não confia em Maria. “A Cristina Maria” – insiste, presumindo que faz mossa – “não tem lugar num partido de esquerda”. Porquê? “É demasiado elitista”. Guerras que vão mais longe. “É muito pedro-nunista [de Pedro Nuno Santos, atual secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares] e isso nota-se demasiado”. Já ele prefere nomes como António José Seguro ou Francisco Assis.

Marina Gonçalves, chefe de gabinete de Pedro Nuno Santos diz que a amiga e camarada “está de consciência tranquila”. A própria reafirma: “Sou uma cidadã cumpridora da Justiça, mas sei eu não adulterei nada e, portanto, não tenho medo. Estou muito tranquila”.

De família alfacinha – pais, avós, bisavós nascidos na capital -, nasceu na classe média lisboeta. Com pais ligados à pintura e ao designer gráfico, acreditava-se que Maria seguisse “as artes”. “Falou mais alto a vocação para a política”, diz. Cedo se apercebeu que sendo de “esquerda se identificava com o PS”.

Subiu degrau a degrau. Foi coordenadora de núcleo, vice-presidente do JS de Lisboa, presidente da Distrital, esteve na Direção nacional durante oito anos. Com João Torres a secretário-geral, foi secretária para as relações internacionais – um cargo importante. O próprio João Torres, secretário-geral da JS entre 2012 e 2016, refere a “inteligência e a audácia”. Alguém com “ideias próprias”. Mas não de futebol nem de desporto em geral, não morre de amores pelas redes sociais, detesta cor de laranja e amarelo. Do alto da JS, avisa: “Gostava muito de ser deputada”.

Cargo:
Secretária-geral da Juventude Socialista

Nascimento:
21/01/1989
(29 anos)

Nacionalidade:
Portuguesa
(Lisboa)