Jacinda Ardern: “A escolha do momento para ter filhos pertence às mulheres”

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Destaca-se pelo raciocínio rápido, pela resposta pronta, pelo sentido de humor com que olha para si própria, pela condução inteligente e eficaz de um percurso político que a levou, em outubro de 2017, ao cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia.

Jacinda Ardern nasceu em Hamilton, em 1980. Filha de um polícia e de uma funcionária de cantina de escola, foi criada em Morrinsville e na pequena cidade de Murupara, em Bay of Plenty, região rural marcada pelo desemprego e pela pobreza. Testemunha da desesperança nos mais jovens, aos 17 anos aderiu aos trabalhistas, destacando-se rapidamente nas associações juvenis.

De 2001 a 2008, já formada em Comunicação pela Universidade de Waikato, ganhou experiência política. Primeiro, no gabinete da então primeira-ministra Helen Clark; mais tarde, no Reino Unido, como assessora de Tony Blair. Em 2008, ano-chave, foi eleita presidente da União Internacional da Juventude Socialista, e membro do Parlamento da Nova Zelândia. Habituada a ser julgada pela ambição e aparência, foi como parlamentar que Jacinda fugiu ao chavão que lhe colaram e consolidou o percurso. Escolhida por unanimidade vice-líder do partido acabaria por chegar, em 2017, à presidência.

Na campanha eleitoral para primeiro-ministro, defendeu a gratuitidade do ensino e prometeu combate à pobreza. Recusando os espartilhos religiosos em que cresceu (movimento mórmon), por incompatibilidade com os seus pontos de vista políticos, bateu-se pela descriminalização do aborto e pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo. E, quando questionada sobre as capacidades para assumir o cargo devido a uma eventual gravidez, foi clara: “É totalmente inaceitável considerar em que as mulheres devem responder a essa questão. A escolha do momento para ter filhos pertence às mulheres. Isso não deve determinar se pode ou não ter um emprego.”

Menos de três meses depois da eleição, em janeiro de 2018, anunciou a gravidez. Que se saiba, será a segunda líder mundial a dar à luz durante o mandato (a primeira-ministra do Paquistão Benazir Bhutto está registada como tendo sido a primeira, em 1990). Ardern será substituída pelo vice-primeiro-ministro durante as seis semanas de licença de maternidade, gozadas após o parto. Depois, caberá ao seu companheiro, Clarke Gayford, ficar a tempo inteiro com a criança, explicou em conferência de imprensa. Na ocasião, aproveitou para se declarar “uma mulher feliz que faz o que gosta”. Curiosidades do dia-a-dia do 40.º líder do governo da Terra da Grande Nuvem Branca: tem um gato e não bebe café.