Vendedor de peixe reforma-se e vira herói nacional

Texto de Pedro Emanuel Santos

O Japão é um país pouco afortunado no que a catástrofes naturais diz respeito. A última, um terramoto que quinta-feira (dia 6) abalou a ilha de Hokkaido, provocou 44 mortos e muita destruição.

É nesses cenários que Haruo Obata gosta de atuar. Este homem de simpáticos 78 anos é conhecido por acorrer a todos os locais do Japão afetados por desastres da natureza. E não só.

Obata ganhou admiração nacional e é já considerado um herói. Sobretudo depois de, em agosto, ter ajudado a salvar com vida um bebé de dois anos que esteve três dias perdido numa montanha em Yamaguchi. Quando soube que a criança estava em perigo, o idoso não hesitou um segundo e deixou a cidade onde vive, Oita, acelerando mais de 200 quilómetros até ao local que concentrava todas as atenções. E não descansou até ter nos braços quem todos procuravam.

Nessa viagem, como sempre faz, Haruo Obata utilizou o seu pequeno carro, que lhe serve, praticamente, de casa. É nele que percorre o arquipélago nipónico de norte a sul, onde haja alguém a precisar de ajuda.

Apesar da estrutura franzina, 1m61 e 57 quilos, Obata tem habituado os japoneses às suas proezas. Até o capacete que utiliza nas operações de salvamento é quase lenda, sobretudo pela inscrição que ostenta e onde se pode ler: “O amanhã sempre virá”.

Outra das ações mais espetaculares de Haruo Obata foi quando, em 2011, após o violento sismo seguido de tsunami que abalou o Japão – 9.0 de intensidade – não mostrou qualquer receio de se deslocar até Fukushima, onde uma central nuclear cedeu e libertou perigosa carga térmica. Foi lá para ajudar a salvar o que restou de bens pessoais por entre os inúmeros escombros deixados pelo rastro tremendo de destruição. E não voltou de mãos vazias.

Um dos segredos para a destreza física de Obata é a dieta rigorosa a que se sujeita. Nunca come muito e raramente foge a uma ementa constituída apenas por arroz e ameixas em conserva.

“A vida é preciosa e única. O importante é manter o otimismo e olhar em frente, mesmo num cenário de tragédia”, considera Obata, citado pela BBC.

Comerciante de peixe durante a vida ativa, o avozinho herói sempre foi alguém que gosta de ajudar os outros. Depois de se reformar, com 65 anos, dedicou-se ao voluntariado. “Por gratidão a tudo o que vivi”. Uma lição de vida, portanto.