Guerra de sexos no Tour

Texto de Ana Sofia Reis

No dia 29 de julho, domingo, o galês Geraint Thomas cruzou a meta do Tour de França, sagrando-se, assim, vencedor da edição de 2018 daquela que é a mais famosa competição de ciclismo do mundo. Na véspera, outro grupo de ciclistas profissionais completou da mesma forma a última etapa, depois de 23 dias de prova e após 3351 quilómetros.

Existem apenas duas grandes diferenças: as bicicletas eram ocupadas por mulheres, sem exceção, e nenhuma delas estava inscrita em qualquer prova. As 13 atletas que lideravam o grupo faziam parte de um coletivo intitulado “Donnons des elles au vélo” (em português: “Deem-lhes uma bicicleta”).

A Volta a França, oficial, decorre desde 1903 e é apenas disputada por homens. No entanto, em 2014, a equipa de ativistas começou a cobrar a inclusão das mulheres. E assim tem acontecido desde então. Neste ano, as atletas realizaram exatamente o mesmo trajeto com as mesmas 21 etapas originais da competição, sendo que o único objetivo era demonstrar que também têm condições para estar numa competição dessa dimensão.

Em 1980, a organização do Tour chegou a realizar uma prova exclusiva para mulheres, o “Tour de France Féminin”. A competição existiu até 2009. Apesar de ter havido alterações no nome e na organização, nunca suscitou qualquer tipo de interesse para os patrocinadores ou para os media, acabando por desaparecer.

A recente mobilização das ciclistas profissionais envolveu um abaixo-assinado que obteve quase 100 mil adesões. “Nós não procuramos competir contra os homens, mas ter o nosso próprio circuito profissional em conjunto com o evento masculino, na mesma época, com as mesmas distâncias, nos mesmos dias, com modificações nos horários de partida e chegada, para que nenhuma corrida interfira na outra”, dizia o texto da petição.

Anna Barrero, uma das ciclistas incluída no grupo de 13 atletas que concluíram o Tour, referiu que o objetivo passava “por mostrar ao resto do mundo que as mulheres são perfeitamente capazes de fazer e completar a prova”, salientando que querem exatamente as mesmas oportunidades do que os homens. É a terceira vez que as ciclistas completam o circuito, sempre com a intenção de tentar obter uma resposta positiva para conquistarem a igualdade.

Publicado por Donnons des elles au vélo J-1 em Sábado, 28 de julho de 2018

Apesar de a prova já ter terminado há alguns dias, a ASO (Amaury Sport Organisation), empresa que organiza a Volta a França, continua a ser alvo de críticas por ter dado uma resposta negativa ao coletivo. A organização ainda tem sido contestada pelo facto de continuar a contar com as “meninas do pódio” em todas as etapas. A guerra de sexos continua no próximo ano.