Texto de Alexandra Tavares-Teles
“Casimiro, rua, a Lactogal não é tua”, gritam centenas de produtores de leite, revoltados com as polémicas medidas adotadas recentemente pelo conselho de administração. Os manifestantes garantem que estão perante uma empresa “sem estratégia” para enfrentar os desafios do mercado e que essa postura “não passará incólume”.
“Casimiro”, o histórico presidente da Lactogal, ouviu do seu gabinete os protestos e não esconde aos mais próximos “alguma amargura” por ver o trabalho de 22 anos reduzido a “um mau momento”.
Mas, diz também quem lhe é próximo, “não é homem de chorar o leite derramado”. Hermínio Loureiro, conterrâneo e parceiro de lutas políticas, fala de um “gestor inflexível e intransigente”, responsável em 2017, por exemplo, por lucros cifrados em 44 milhões de euros. Resultado que leva, no entanto, à pergunta, sem resposta, dos manifestantes: como pode uma empresa com tal lucro impor cortes a quem lhe garante a matéria-prima?
Em 1996, pressionado pela entrada em força do leite italiano e espanhol em Portugal, gizou a estratégia considerada impossível: a fusão das rivais Proleite (a que presidia), Agros e Lacticoop, criando a maior cooperativa do país na produção de leite e derivados – a Lactogal -, cuja presidência assumiu de imediato e onde cumpre agora o último mandato, que termina em 2019.
A visão estratégica merecer-lhe-ia a liderança do mercado e, dez anos mais tarde, a Ordem de Mérito Agrícola e Industrial, atribuída por Jorge Sampaio.
Na vida do comendador, o leite é herança. Nascido em 1939, em Ossela, Oliveira de Azeméis, Casimiro de Almeida é oriundo de família numerosa ligada ao mundo rural e de parcos recursos. Aos 11 anos, a ordenha das vacas distraía-o dos deveres da escola.
Porém, conseguiu completar o curso liceal e, ainda menor de idade, garantir um emprego na Cooperativa Agrícola da cidade, antepassada da empresa Proleite de que foi presidente, etapa suada atingida “a pulso”.
Veio depois a política, determinado que estava em tornar-se uma figura da terra. Ligado ao PSD, próximo de Ângelo Correia, a carreira autárquica como presidente de junta, vereador e presidente da assembleia municipal levá-lo-ia à Assembleia da República.
Pelo círculo de Aveiro, e durante as maiorias absolutas de Cavaco Silva, Casimiro rumou semanalmente a Lisboa. À política juntou o futebol, parceria clássica consumada com a presidência da UD Oliveirense.
Pai de dois rapazes e de uma rapariga, divide o tempo entre o Porto, sede da Lactogal, Oliveira de Azeméis, onde vive, e a Torreira, na casa de fim de semana. Hermínio Loureiro retrata o amigo: “Um ‘self-made man’ clássico e gestor invulgar que não esqueceu as origens.”