Quando as famílias vão juntas aos festivais

Igor Martins/Global Imagens

Texto de Pedro Emanuel Santos

Se dantes o mais comum era os pais levarem os filhos aos festivais de música e só regressarem aos recintos no final da noite para os recolherem de volta a casa, agora é bem frequente partilharem as emoções festivaleiras.

Do início ao fim, quaisquer que sejam os artistas a brilhar em palco, dure o dia musical curtas horas ou prolongue-se madrugada dentro, seja o cenário dos mais poeirentos ou dos mais confortáveis. São famílias que a música une, momentos desfrutados em comum que ficam para sempre no álbum de memórias.

Com apenas quatro anos, Carlota já participou em mais festivais do que muitos quarentões. Sempre ao colo ou às cavalitas do pai, o jornalista Pedro Vasco Oliveira, e devidamente protegida contra o tumulto gerado pela junção de música em altos berros e uma multidão em gáudio.

“A Carlota nasceu em 2014 e em 2015 estreou-se, com nove meses, no Mini Primavera Sound, no Porto. Usa sempre auscultadores para proteção dos ouvidos e às 22.30 horas, o mais tardar, está a recolher”, conta o pai, que também já a levou a várias edições principais do Primavera Sound para adultos, “onde ela ouviu ao vivo a sua música favorita, a ‘Progress’ dos Public Service Broadcasting”, bem como a Paredes de Coura.

“A escolha recai nos festivais campestres e em que as bandas são daquelas que costumamos ouvir em casa. Em Paredes de Coura, por exemplo, é possível usufruir da Praia Fluvial do Taboão durante o dia e ver uns concertos ao final da tarde, início de noite. O ideal para usufruir em família”, descreve Pedro Vasco Oliveira, 50 anos.

Carlota, filha de Pedro Vasco Oliveira, estreou-se em festivais de verão aos nove meses.

Mas há quem vá mais longe e junte filhos, irmãos ou primos e se aventure em maratonas em ambiente de festival. É o caso da família Paz, que este ano decidiu ir pela primeira vez em caravana aos três dias do Marés Vivas, em Gaia. Uma estreia em grande com direito, inclusive, a recolha massiva de brindes em tudo o que era banca de marcas.

“Só preservativos foram 93, mais umas 15 amostras de gel, porta-chaves, bandanas, capacetes, tudo”, detalha Margarida Paz, 50 anos. Ela, os filhos Ana e Hugo, 17 e 20 anos, respetivamente, o irmão Carlos, 52, e a sobrinha Adriana, 18.

“Foi uma excelente experiência, que queremos repetir daqui em diante. Até meti férias de propósito para ir. Valeu bem a pena – pelo convívio, pelos concertos, pela oportunidade para estarmos todos juntos em festa”, assinala Carlos Paz, bancário. “Foi também uma oportunidade para encontrarmos outros amigos e podermos confraternizar.”

Experiência para repetir
Os mais novos da família Paz também apreciaram a ideia e ficaram com vontade de repetir nas próximas edições. “Não nos sentimos presos pelo facto de irmos com os nossos familiares. Eles deixaram-nos muito à vontade e pudemos visitar diversos palcos”, realçam Ana Fraga, Hugo Fraga e Adriana Paz. “Foi muito bom, sobretudo por estarmos todos juntos a viver uma experiência nova.”

“Ficamos com água na boca para mais”, sublinha Carlos Paz, convicto de que em 2019 será possível voltar a marcar na agenda da família um convívio com muita música como pano de fundo.

No recinto do Marés Vivas, os Paz cruzaram-se com Carla Santos, que também levou a filha Matilde, 12 anos, ao festival. “Nunca tínhamos ido as duas, ela adorou”, lembra a mãe. “Havia bastante segurança, não tive qualquer receio. Aliás, até a deixei ir ter com amigas e estive sempre super tranquila.” Deixar Matilde ir sozinha a um festival, “como ela já pediu”, é que ainda nem pensar. “Talvez daqui a uns anos, para já é bastante cedo.”

O casal Aquiles Pinto e Daniela Couceiro é frequentador habitual de eventos musicais em conjunto com a filha, Rita, de 11 anos. “O festival Panda também vale? Foi aí que tudo começou”, sorri Aquiles, 40 anos. Já foi há uns anos, mas desde então Rita acompanhou os pais em diversas edições do Primavera Sound, do Rock in Rio e do Marés Vivas. E tem adorado. “Pude ver concertos de músicos ou bandas que não conhecia, além de atuações de artistas que já ouço por mim”, conta Rita.

Daniela, a mãe, até no menos bom tem elogios para apontar. “Uma vez a Rita deu uma ligeira queda no Rock in Rio e a organização foi excelente, os paramédicos foram muito eficientes a fazerem-lhe o pequeno curativo para que ela continuasse a divertir-se”, recorda a educadora social, de 43 anos.

“Famílias são bem-vindas”
Há cuidados a ter, claro, sobretudo para que a mais pequena da família não encontre motivos que a levem a deixar de usufruir dos festivais, vencida pela força do desgaste que as horas de concerto motivam. “Raramente optámos por passes de três dias. Preferimos bilhetes diários justamente pela questão do cansaço da Rita”, diz Aquiles Pinto.

“Sentimos sempre, sem exceção, que as famílias são bem-vindas nos festivais. De ano para ano nota-se que há cada vez mais a participarem. Até já aconteceu a Rita encontrar amigos e amigas”, relembra, por sua vez, Daniela Couceiro.

O Rock in Rio, que Daniela, Aquiles e Rita já experimentaram, é o festival favorito de Joana Valadares e das três filhas. Estão lá batidas desde a primeira edição, já lá vão 14 anos. Este ano, claro está, não falharam.

“Lembro-me que da primeira vez que fomos, a mais nova ainda andava no carrinho de bebé. Só deu mesmo para darmos uma volta para ver como estavam as coisas, mas mesmo assim divertimo-nos bastante”, recorda Joana, empresária de 46 anos.

Juntos sim, às vezes

A escolha do Rock in Rio para estas reuniões familiares é facilmente justificada por Joana Valadares: “É um festival com um ambiente super tranquilo, com muitas coisas diferentes para ver. O espaço é enorme”, aponta.

Agora que as filhas – Sara, 20 anos, Maria, de 17, e Clara, de 11 – são um pouco maiores, é normal que os caminhos por vezes se separem dentro do recinto. Mas duas coisas são certas: a família chega junta e junta regressa a casa, no Estoril.

“Há concertos que umas querem mais ver do que outras, é normal. Mas também temos concertos que vemos juntas, em família. Este ano, por exemplo, o do Bruno Mars é um excelente exemplo.”

E uma confirmação de que os múltiplos festivais de verão, que se espalham país fora desde junho até setembro, são pretexto ideal para conseguir o que escapa a outros eventos no resto do ano: colocar famílias inteiras a viverem horas de desfrute em conjunto, em torno de um prazer comum.