A minha tribo

Notícias Magazine

Quarenta anos, bolas. Vou fazer 40 anos neste ano. Ainda me lembro do tempo em que pensava, aterrorizada, que ia fazer 20 anos, 30 anos e achava isso uma enormidade.

Que ia ser muito crescida, muito adulta e muito diferente do que era na altura, com 10 anos.

Claro, a vida é uma roda e ela vai girando muito devagarinho, quase sem nos apercebermos. Assim, chegamos a todo o lado com a sensação de que não mudámos assim tanto. Ou, pelo menos, que o nosso centro permanece, enquanto as restantes camadas que nos compõem vão crescendo, à medida que vão andando.

É um pouquinho isso, sim. Há algo que permanece, que é uno e o âmago de tudo. Depois, há a amálgama, as camadas do bolo, mais ou menos bem postas, umas por cima das outras, dependendo do jeito do pasteleiro.

Os enfeites do bolo também mudam, consoante as modas dos tempos que se vivem. E dão fotos embaraçosas cujo estragos, antes, se continham num núcleo familiar restrito e que, com o advento das redes sociais, dentro de vinte anos, servirão para nos envergonhar eternamente face ao mundo porque, como se costuma dizer, uma vez na internet, para sempre na internet.

Desde que aprendi a escrever, a escrita tem-me servido de escape, de tentativa de guiar esta roda destravada que é a vida. O que eu escrevia aos 10 anos é muito diferente do que escrevo à beira dos 40, mas a essência da sua importância terapêutica, mantém-se.
São sete anos de terapia frente a todos os que acompanham estas crónicas, saídas desta cabeça cheia de macaquinhos e macacadas.

Estranho sempre quando me dizem que as lêem com agrado. Por que raio o fariam? Isto é só uma miúda a escrever para si mesma, tentando entender o mundo que a rodeia. Desde os meus 10 anos que é assim.

A única explicação que encontro para que gostem do que escrevo é que afinal não estou tão sozinha como pensava quando era garota. Há aí pelo mundo muitos e muitas freaks, que se deitam a pensar e a sonhar alto a um canto. E que, quando encontram outro ou outra freak, reconhecem-lhe imediatamente as cores. São a minha tribo.

Isso é uma coisa que a miúda de 10 anos não tinha e que a de 40 ganhou: a sensação de pertença a um grupo. O melhor grupo de todos é aquele que nos acolhe, tanto às perfeições como às imperfeições que nos compõem.

Obrigada à minha tribo, por me acolherem e acolherem o que tenho a dizer de forma tão generosa. A miúda de 10 anos ficar-vos-ia muito agradecida, mas a garota de 40 fica ainda mais.