Verdadeiras causas para uma greve de professores

Notícias Magazine

Esta semana houve greve de professores. Segundo os sindicatos, uma grande greve e uma manifestação em frente à Assembleia da República. Fiquei contente com esta greve. E também um pouco surpreendida com a capacidade de mobilização tão rápida.

De facto, foi apenas na sexta-feira que foi apresentado o estudo. Qual estudo? O da Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, também chamada DGEEC, que traça um cenário negro do ensino em Portugal. Mas percebo a pressa, a dos professores e seus sindicatos. Não há tempo a perder, não é?

Com dados destes, todo o tempo é pouco para recuperar. Há que ir para a rua, com indignação. Forçar à ação, de quem a pode ter. E se no caso dos incêndios até se pode questionar a que ponto um Estado central pode atuar, com a responsabilidade que têm alguns privados na gestão da sua floresta, e na questão da seca estamos entregues a Deus, neste assunto ninguém melhor do que o governo, o Ministério da Educação, partidos e Assembleia da República para resolver o problema. Por isso, sim, estiveram bem os professores em marcar esta greve e manifestação.

Pormenor lateral: foi curioso que este estudo da DGEEC tenha saído na ressaca da Web Summit – a tão falada e polémica cimeira de tecnologia e indústrias digitais. Os piores dados do estudo têm precisamente a ver com disciplinas de Matemática, Inglês, Português e Físico-Química. Portanto dir-se-ia que os alunos portugueses estarão pouco menos que impreparados para essa nova era da economia digial – que conta, pelo menos, com essas habilidades para existir. Lá se vai o sonho da nação startup.

Mas como o estudo recua dois anos – para o ano letivo de 2014-2015 – há esperança de que essa malta de alunos do secundário que estavam a preencher o «terceiro anel» do Altice Arena, com os bilhetes que o Presidente Marcelo pediu ao Paddy Cosgrove para disponibilizar, tenha aberto os olhos e estugue o passo.

Em todo o caso, foi bom que os professores tenham marcado esta greve. Sim, porque mais de metade dos alunos que chumbam nos 7º, 8º e 9º anos fazem-no com mais de seis negativas – ou seja, mais de metade – e, destes, 97% têm negativa a Matemática. E isto é uma calamidade nacional. E a coisa só piora ao longo do tempo – no 7º ano, 24% dos alunos tiveram negativa a Matemática, no 8º foram 32% e no 9.º ano mantém-se nos 30%. Isto acontece também a Inglês e Fisico-Química, não por acaso porque estas são as disciplinas que mais implicam seguimento de matérias.

Ou seja, nota 100, ou 20, ou lá o que se usa no secundário, para os professores que protestam, porque, afinal, o que este estudo prova é que estão a fazer muito pouco. Aliás, o estudo diz que é «bastante impressionante a forma transversal como o contexto económico influencia as classificações em todas as disciplinas».

Os alunos que não precisam de apoio social tiveram 25% de chumbos a Matemática. Entre os que o têm, são metade. Isto quer dizer que o ensino depende cada vez mais do que acontece em casa e no meio onde o aluno vive e de onde vem, e menos na escola. Adeus, escola como nivelador social. Adeus ideais de Abril – por isso, mais uma vez, homenagem à esquerda que vai combater na rua contra esta situação.

Ah, esperem, estão-me ali a fazer sinais… Então? Não foi pelas más notas dos alunos que os professores se manifestaram? O quê? Pelas carreiras? A sério? Não acredito.