No fim do mês de maio, os alunos de uma escola de Vagos, em Aveiro, manifestaram-se contra aquilo que consideraram uma atitude homofóbica por parte da direção da escola em relação a duas raparigas, namoradas, que não escondiam o namoro. A «chamada de atenção» por parte do diretor, nas suas palavras «no sentido de as proteger», foi encarada, e bem, como discriminatória pelos miúdos. Ainda que se tratasse disso, de protegê-las, não sendo adotado o mesmo procedimento relativamente a namorados de sexo diferente, implicava um tratamento desigual, um olhar preconceituoso. E eles não ficaram calados. Não foram cúmplices. Não encolheram os ombros. Não acharam normal. Perceberam que era errado e manifestaram-se.
É nestes alunos de Vagos que penso de cada vez que leio (ou oiço) um comentário homofóbico. São eles que me lembram que os Gentis Martins da vida pertencem ao passado. Existem, chateiam, mas já não são deste tempo. Neste tempo e neste país, as pessoas, independentemente do género, podem amar, viver, casar e ter filhos com quem quiserem.
Aconteceu ontem esta evolução civilizacional e o passado ainda não desapareceu do presente, mas os alunos de Vagos fazem-me acreditar que vai desaparecer, assim como os meus filhos e os amigos dos meus filhos, para quem a homofobia e, já agora, o racismo e o machismo, que também têm estado na ordem do dia, são uma vergonha. E é extraordinário perceber isso, perceber que daqui a nada quem tem de se esconder em armários são aqueles que não entendem o amor e a liberdade e os direitos humanos. E não há nada de injusto nisso. Injusto é aceitar discursos de ódio como liberdade de expressão.
Pareço demasiado otimista? Talvez. Mas, ao contrário de muita gente, tenho grande esperança nas novas gerações. Sim, sei que não podemos baixar a guarda e estou convencida de que a única forma de chegar mais depressa ao futuro é a educação, a aposta e o investimento numa educação para a igualdade, para a cidadania, para os direitos humanos, para a justiça social. Soa a frase batida, não é? Mas é tão importante que seja o ponto de partida de todas as educações: a que se dá em casa, a que se aprende na escola, a que se ganha ao longo da vida, nos vários mundos em que crescemos, nos movimentamos e nos formamos.
Só com uma aposta séria na educação (talvez devesse pôr um E maiúsculo, mas enervam-me as maiúsculas) é que chegamos a um país mais justo, com menos guetos e menos pobres (ia escrever sem guetos e sem pobres, mas esse futuro, que defendo, já não será no tempo da minha vida), e consequentemente a um país onde dizer «paneleiro» e «fufa» e «preto, vai para a tua terra» e «os ciganos vivem todos do rendimento mínimo» e «os homossexuais são anormais» e «o lugar das mulheres é em casa» e «os pobres não querem é trabalhar» e por aí fora não será só politicamente incorreto. Será impensável.
Esse futuro, espero ainda poder vê-lo. Acredito que sim, que vou vê-lo. Aliás, já o vejo. Nos meus filhos.