A lei da paridade vai ser discutida hoje na Assembleia da República. Mas a imposição de quotas como forma de chegar à igualdade de género nos lugares de administração nas empresas fazem sentido divide até as mulheres. Isabel Marrana, diretora executiva da associação do vinho do Porto não concorda com as quotas. Já Teresa d’Avila, líder da associação das empresárias, é a favor. Uma guerra do mesmo sexo.
Para uns, só à força se chega lá; para outros, é preciso saber esperar. Mas existe um facto irrefutável: são poucas as mulheres nas administrações das empresas portuguesas. A solução para o problema não é, porém, consensual. E a medida do governo de criar quotas para os lugares de topo das empresas cotadas na bolsa divide até o sexo feminino. A defender o lado dos que consideram que a ideia é um disparate está Isabel Marrana, 52 anos, diretora executiva da Associação de Exportadores de Vinho do Porto. Opinião oposta tem Teresa d´Avila, de 72, presidente da Associação de Mulheres Empresárias de Portugal, para quem as quotas são um mal menor. «Quem está sentado e tem dificuldade de se levantar ou é obrigado ou não se levanta», diz Teresa d’Avila, garantindo que sem quotas é complicado as mulheres «chegarem lá», ao topo, devido à mentalidade que ainda existe no país.
«Para mim não faz sentido as mulheres serem impostas por decreto», considera Isabel Marrana, para quem a seleção nunca deve ser feita pelo sexo. «Acredito mais que a solução passe pelo mérito». E isso, diz, será feito de «forma gradual e natural».
Para ela, é apenas uma questão de tempo. «O conjunto de mulheres de grande qualidade que se estão a formar nas universidades vai levar a que seja feita uma seleção natural e uma mudança na sociedade». O argumento não convence a opositora. «Se assim fosse, já devíamos estar nos lugares de topo», argumenta Teresa d’Avila, sublinhando que «há vários anos há mais mulheres licenciadas do que homens e muitas de grande qualidade. Se não se impuserem as quotas, nada muda».
Isabel tem outro argumento: «Mas para quê impor quotas, uma medida politicamente correta, quando depois na realidade tudo será contornado e os homens é que continuam a mandar?» «Isso terá a ver com a forma como as mulheres serão colocadas; por escolha, por concurso», refere Teresa d’Avila, rematando: «Tem é de se começar por algum lado».
Numa coisa estão de acordo. As mulheres têm pouco poder de decisão. As duas sempre estiveram num mundo conservador e de homens e poucas vezes se cruzaram com outras mulheres. Isabel Marrana, que se movimenta no setor do Vinho do Porto, admite que é sempre uma exceção nas reuniões onde se tomam decisões importantes. «Só há mais mulheres nas reuniões técnicas».
O mesmo se passa com Teresa d’Avila, que quando liderava a empresa familiar de cabos elétricos nas reuniões de topo era também a única mulher. «E não faz sentido nenhum porque mulheres e homens complementam-se», considera Teresa d ’Avila, notando que a liderança de uns e outros são «totalmente diferentes».
Nisso, tem o apoio de Isabel: «Elas são mais pragmáticas, fazem várias coisas ao mesmo tempo; eles são mais estrategas». Por isso, Teresa diz que não gosta de ver mulheres a imitar os homens, por acharem que só assim conseguem ter sucesso. Tanto uma como outra sabem do que falam. Isabel tinha 24 anos quando concorreu a um lugar no Instituto do Vinho do Porto e dois anos depois de forma inesperada foi escolhida pelo presidente da Associação, na época Manuel Pintão, para ser a diretora-executiva da Associação. «Era um homem moderno», diz.
Já Teresa d’ Avila, que liderou a Fábrica Cabos de Ávila, sentiu o que é ter tratamento desigual por ser mulher. «Éramos quatro irmãos, três raparigas e um rapaz, sendo eu a mais velha. Mas na empresa, que era da minha família, o meu pai favorecia e tolerava mais coisas ao meu irmão. E, quando confrontado por Teresa, o pai dava-lhe uma justificação: “Ele é homem”». E ponto final.