Esqueça o Facebook. Este é o tempo do Instagram.

Texto Helena Viegas

A resposta sai-lhe pronta, disparada com o à-vontade de quem está entre amigos e com extrema honestidade. «Toda a gente prefere o Instagram. O Facebook é para velhos…», diz Maria Felner, com uma gargalhada.

Aos 12 anos, velhos são os avós, os tios, os primos – e, na verdade, quase todos os maiores de 15 – mas é sobretudo aos pais que a pré-adolescente se refere. Maria nem sequer tem conta no Facebook e não é a única. Para os mais novos de entre a geração Z, nascida após a criação da World Wide Web (entre 1991 e 2010), o Facebook está out, o Snapchat tornou-se dispensável e «A» rede social do momento é uma: o Instagram.

«É a rede onde estão os meus amigos e também a que é mais fácil de usar», apressa-se por explicar Maria, já num tom mais sério, optando por ignorar o comentário do pai sobre a «preguiça de escrever» dos mais jovens.

O Instagram (que foi comprado pelo Facebook em 2012) é sobretudo visual, permite usar filtros, brincar com as imagens, fazer diretos e agora até publicar imagens que se autodestroem ao fim de algum tempo – uma possibilidade antes exclusiva da rede concorrente com mais relevância nestas faixas etárias. «Já quase ninguém usa o Snapchat…», confirma Maria. O que está em causa é mais do que uma moda adolescente. É verdade que, globalmente, o Facebook continua a ser a rede social mais importante, tendo ultrapassado em junho o marco histórico dos dois mil milhões de utilizadores mensais.

Mas velhos e novos começam a ter opiniões diversas e, a manter-se a tendência, esse reinado poderá ter os dias contados. Com mais de 700 milhões de utilizadores, o dobro dos que registava em 2014, «o Instagram é neste momento a rede social que mais cresce, sobretudo junto dos millennials», confirma a especialista em marketing digital Carolina Afonso, professora no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

Rafael Aragão, 18 anos, tem conta no Facebook, mas é o Instagram que mais usa como rede social. «É onde coloco fotografias com piada, imagens e vídeos de skate, etc.»

O que dizem os números

A tendência entre os jovens é para a utilização de um mix de redes sociais. Mas para perceber as diferenças entre pais e filhos é necessário diferenciar as gerações Y e Z, «até porque a classificação etária da geração millennial não é consensual», alerta Carolina Afonso.

De acordo com os dados do Global Windex 2016, se na geração Y, nascida nos anos 80, o Facebook surge à cabeça com 70 por cento de utilizadores, bem longe dos 55 por cento do Messenger ou dos 32 por cento do Instagram, o mesmo já não acontece com os mais novos. Entre os 7 e os 26 anos, a geração Z, depois do YouTube (79 por cento) – rede com características um pouco diferentes – surge em segundo lugar ex aequo, com 52 por cento,a maioria das restantes redes sociais, incluindo o Instagram, o WhatsApp, etc.

Na prática, esta aparente dispersão traduz-se numa utilização diferenciada das várias redes sociais. «Escolho o Facebook para falar no chat, ou combinar eventos, mas uso sobretudo o Instagram, que é onde coloco fotografias com piada, imagens e vídeos de skate, etc.», explica Rafael Aragão, de 18 anos. Entre os amigos, esta rede tem aliás vindo a impor-se, reconhece.

«No Facebook, a família está toda lá, é tudo muito mais formal, nota-se que toda a gente tem muito mais cuidado com os posts que coloca… O Instagram é mais jovem, mais simples, mantém-se praticamente igual desde o início, apesar de ter aumentado as funcionalidades. Além disso é mais visual», explica.

Uma forma de arte

A componente mais ligada à imagem do Instagram é quase sempre uma mais-valia para os mais jovens – e não apenas para os viciados na internet. André Santos tem 17 anos e há cerca de um ano perdeu o smartphone e passou três meses sem telemóvel. «Adorei», conta, confessando que foi para ceder aos apelos da mãe para voltar a estar contactável, que voltou a ter telefone. Optou por um velhinho modelo Nokia, que quase faz chamadas, e desde então só está ligado às redes sociais quando está ao computador, em casa. Usa o Facebook para conversas de grupo e publicar vídeos e fotografias parvas, coisas com graça, mas no Instagram é diferente, reconhece.

Embora as fotografias sejam obrigatoriamente inseridas individualmente, o perfil mostra-as em mosaico e isso permite «brincar» com as composições, o que, para um estudante de Artes, candidato ao curso de Design Gráfico, é muito mais apelativo. «Tenho muitos amigos ligados às artes e com páginas que são absolutamente lindas. Fazem composições de três por três, mostram o seu lado mais artístico… Acho superinteressante a forma como cada pessoa se apropria do meio como quer. E eu próprio faço isso com o meu Insta», explica.

André já foi «muito mais ligado a redes sociais» e aos 15 anos tinha conta no Twitter, no Tumblr, mas atualmente reduziu a sua presença nas redes sociais ao Facebook e ao Instagram. E o mesmo fez Rafael que, além do YouTube – «que não é bem uma rede social» – comunica sobretudo nestas plataformas. «Em tempos, tive Snapchat, mas até apaguei a aplicação, porque com o InstaStories passei a ter tudo no Instagram», acrescenta.

Guerras de milhões

O lançamento do InstaStories, em novembro de 2016, não é um mero pormenor. A volatibilidade adolescente e a rápida adesão a novidades explicam apenas uma parte da história no que toca às migrações e posicionamento dos mais jovens nas redes sociais. As tendências são também o resultado de estratégias empresariais agressivas, que envolvem guerras de milhões.

«Há uns anos o Facebook (que é também “dono” do Instagram) tentou comprar o Snapchat, a rede que então mais crescia no segmento mais jovem, que não se vendeu. E foi isso que acabou por originar da parte do Facebook numa aposta forte no Instagram e em funcionalidades populares junto dos jovens (como é o caso de vídeos, filtros, efeitos, etc.), com os resultados que se conhecem», explica Carolina Afonso.

A polémica criada em torno da «usurpação de funcionalidades «que o InstaStories fez do Snapchat, não demoveu Marc Zuckerberg, o grande vencedor desta «guerra». Entre os utilizadores do Instagram, mais de 200 milhões usa o Instagram Stories, um número significativamente maior do que os 166 milhões utilizadores do Snapchat.

«O Snapchat tem vindo a tentar diferenciar-se com o lançamento de novidades como os óculos Spectacles, que permitem captura de vídeo para publicação direta no Snapchat, contudo a popularidade da rede tem vindo a diminuir o que tem tido reflexos também na desvalorização das acções em bolsa», acrescenta a especialista. O Snapchat estreou-se no Nasdaq, em Nova Iorque, em fevereiro, mas depois de um início auspicioso, as ações caíram a pique e um mês depois o prejuízo do multimilionário Evan Spiegel, de 26 anos, atingia os dois mil milhões de dólares.

Maria Felner tem 12 anos, não tem Facebook e acha que a rede criada por Mark Zuckerberg é para velhos. Não é a única. Está no Instagram, onde estão todos os amigos. «É mais fácil de usar.»

Pais distraídos, marcas atentas

Para os pais menos atentos, ouvir um adolescente comentar que o Facebook é «para velhos» pode ser uma surpresa. A velocidade com que o mundo da internet evolui exige uma atualização constante. «Há bem pouco tempo, ainda andávamos a discutir os sms e questões como se o computador da casa deveria estar na sala ou no quarto…», lembra Eduarda Ferreira, psicóloga educacional e investigadora que faz parte do projecto Kids Online.

O último grande estudo feito a nível europeu data de 2014 e será preciso esperar por 2018 para, com o rigor da investigação e dados de mais de mil inquéritos, analisar os efeitos das mudanças mais recentes no que toca aos jovens e às redes sociais. Mas há alguns aspetos, já aflorados em estudos qualitativos, que saltam à vista. «O acesso móvel à internet veio provocar enormes mudanças», afirma a especialista.

O wi-fi gratuito veio tornar obsoleta a pergunta: «Quanto tempo passas na internet?» e invalidar estratégias de monitorização do que os miúdos fazem online, da parte dos pais, reforçando a necessidade de apostar no conhecimento e espírito crítico, mais do que na vigilância. Além disso, as barreiras entre o mundo físico e virtual esbateram-se e «para os mais novos, a comunicação online tem hoje um valor igual ao face a face», acrescenta.

No sentido inverso ao dos pais, que muitas vezes se queixam de «não conseguir acompanhar» as tendências juvenis, o mundo da publicidade parece estar mais em sintonia com essa evolução. O fenómeno é global e revela-se nas apostas das grandes marcas ligadas ao lifestyle, mas não só. No que toca ao marketing digital, Carolina Afonso não tem dificuldade em citar exemplos disso mesmo, em Portugal. «Temos o exemplo da Sumol, entre outros.

A marca tem apostado bastante neste target e tal é visível na forma como comunica. Tem feito várias parcerias com bloggers e vloggers e apostado em conteúdos feitos em cocriação que tem utilizado para publicações no Instagram, geradoras de muito engagement no Instagram com a marca», explica. As marcas parecem já ter percebido que as palavras de Maria são para levar bem a sério: O Facebook é mesmo para velhos.