Texto de Alexandra Tavares-Teles/Fotografia de Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens
Aos 66 anos, 47 deles ligados ao futebol, primeiro como jogador e, mais tarde, no papel de treinador reconhecido pelo trabalho exemplar em algumas equipas portuguesas, Manuel Cajuda mantém pela profissão o entusiasmo inicial. Entusiasmo e devoção, que nem a última década, numa travessia quase ininterrupta pelo Egito, pelos Emirados Árabes Unidos e, agora, pela China, fizeram estremecer.
Diz ele que ser emigrante é sobretudo gostar de aprender e de ensinar; que a China, «país com inúmeros encantos», não é o bicho-papão que muitos imaginam. «Para quem gosta de conhecer culturas maravilhosas, comidas exóticas, povos surpreendentes e simpáticos, templos milenares a China será sempre uma viagem para não esquecer».
Se tinha lugar no meu país? Não sei. Confesso que o ambiente degradante em que estão a colocar o futebol português não é nada que me apaixone».
Está grato ao futebol, que lhe deu «quase tudo, mostrou-me muita coisa boa». E má também: «a hipocrisia, a falta de caráter, a sede de protagonismo». Mais, e para ele pior de tudo: «o marketing da incomptência».
Quando sentiu que se preparavam para o afastar, decidiu afastar-se de Portugal pelo próprio pé . Desde logo porque «é estúpido não saber viver com a realidade». Depois, porque «até gosta de aprender e de ensinar, de conhecer». «Se tinha lugar no meu país? Não sei. Confesso que o ambiente degradante em que estão a colocar o futebol português não é nada que me apaixone».
Hoje em Portugal, «o futebol é jogado sobretudo pelos diretores de comunicação. Jogadores e treinadores estão em quinto plano». Este não é, nunca foi, o futebol de Manuel Cajuda. Abalou, não está arrependido.
Algarvio de Olhão, nascido em 1951, faz o balanço: «a minha vida tem sido sempre feita de lições e viagens contínuas». Não se considera mais sábio que ninguém mas arrisca um conselho:«vivam porque nem tudo é céu, nem tudo é inferno». Aos filhos pede que «sejam simplesmente honestos». De si, diz-se «uma pessoa simples». E declara-se orgulhoso disso.
Uma vida em números:
6 – Camisola
O número que mais utilizou como jogador
564 – Mister
Número de jogos sentado no banco. Desses, 60 como adjunto
40 – Casamento
Foi há quatro décadas. O casal prepara as bodas de ouro.
25 Abril
de 1974: «o fim de um pesadelo»
66 Ano de capicua
Manuel Cajuda nasceu em 1951. Tem 66 anos.