Texto de Patrícia Cardoso
Luís Gomes e Baby Lores sobem hoje ao palco do Campo Pequeno, em Lisboa, e amanhã, do Multiusos de Gondomar. A dupla, que tem uma música a rolar na novela da TVI, Ouro Verde, aceitou com entusiasmo o convite da produtora que traz Luis Fonsi, autor do hit deste verão – Despacito.
Para Luís Gomes, o ainda presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, o convite resulta do «reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido.» Com uma agenda de espetáculos preenchida para este verão, estas duas noites são especiais pela projeção que poderão trazer.
Mas quem é então o autarca que está a fazer um doutoramento no Instituto Superior Técnico, dá aulas na universidade do Algarve, não pretende desligar-se da política, mas vai trabalhar para conciliar tudo com a carreira musical?
«Não gosto de fazer muitos planos. Não me sinto um político carreirista, faço o que gosto e adoro novos projetos, esta é a minha única certeza.»
Ao mesmo tempo que dá a entrevista, Luís Gomes vai cumprimentando quem passa na rua. «Boa tarde, como está?» Em Vila Real de Santo António, cidade natal, já todos o conhecem. Presidente da câmara municipal desde 2005, eleito pelo PSD, termina no final deste ano o terceiro mandato e já não poderá recandidatar‑se. Aos 43 anos, está orgulhoso, admite. «Foram realizadas a esmagadora maioria das propostas graças a uma equipa muito competente.» Nesta espécie de espírito de missão cumprida, o autarca despede‑se de mais um capítulo político sem saber ainda o que vai fazer a seguir. «Não gosto de fazer muitos planos. Não me sinto um político carreirista, faço o que gosto e adoro novos projetos, esta é a minha única certeza.»
Na verdade, um dos desafios que agarrou há algum tempo nada tem que ver com os meandros da autarquia. É nas pautas de música, na guitarra e no piano que Luís passa madrugadas a ensaiar. A música é parte integrante do tempo livre e, quem sabe, pode vir a tornar‑se a ocupação principal daqui a uns tempos. A gestão entre o cargo de presidente da câmara e esta aposta é feita com tranquilidade, garante. «Na verdade, durmo pouco e tenho muito entusiasmo pelo que estou a fazer.» E como é que surgiu essa vontade de cantar? A resposta vem do lado de lá do oceano.
Tiveram alguns encontros e o cantor veio fazer uns concertos em Portugal. O autarca acompanhou alguns dos ensaios para espetáculos e, por vezes, deixava escapar uma nota. Foi assim que Lores percebeu que Luís tinha boa voz e desafiou‑o a colaborar num tema. No início de 2014, lançaram Ando Buscando, que foi bem recebido pelos cubanos.
«Eu escrevo a maioria das letras e o Lores encarrega‑se da composição musical, mas ajudamo‑nos mutuamente. Eu nunca tinha colaborado com alguém com uma carreira feita, estou sempre a aprender.»
O bichinho ficou e não pararam. «Eu escrevo a maioria das letras e o Lores encarrega‑se da composição musical, mas ajudamo‑nos mutuamente. Eu nunca tinha colaborado com alguém com uma carreira feita, estou sempre a aprender.» O gosto pela música vem desde novo. Com 7 anos aprendeu a tocar órgão e, logo a seguir, clarinete e guitarra. Fez também alguns trabalhos como DJ. Nunca abandonou a paixão, mas tampouco a escondeu. Mas fazer disto vida, isso é outra conversa. Agora que leva a música mais a sério, diz que a inspiração lhe surge em qualquer momento. «No outro dia vi um documentário sobre os Beatles e mexeu comigo, deu‑me logo ideia para uma letra. Normalmente é assim.»
A política surge mais tarde na vida do autarca. De 1991 a 1996, estudou Engenharia do Território, no Instituto Superior Técnico e, logo a seguir, começou a dar aulas de Desenvolvimento Regional como professor assistente na Universidade do Algarve. A convite de Carlos Martins, presidente da comissão política distrital do PSD, candidatou‑se à Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, em 2001. Não ganhou nesse ano. Assumiu então um lugar como deputado na Assembleia da República até 2005, ano em que voltou a candidatar‑se. Tornou‑se presidente da câmara da sua cidade. Foi reeleito em 2009 e 2013. Em 2017 já não pode. Entretanto, não deixou os estudos de lado e está, de momento, a tirar o doutoramento no Instituto Superior Técnico.
O autarca diz que não gosta muito de rótulos, por isso não quer posicionar‑se num ou outro género musical específico. «Fazemos um pouco de tudo, temos músicas que vão do reggaeton à pop eletrónica ou mais românticas».
É um acérrimo defensor de que os políticos não podem – nem devem – negar os seus gostos, hábitos ou passatempos. «Somos pessoas com uma vida para além do trabalho, eu acho que as pessoas gostam de ver isso e se identificam com essa abordagem mais humana. É possível fazer as duas coisas e fazê‑las bem.» A prova disso é que muitos vila‑realenses acolheram bem as músicas da dupla, e Gomes e Lores (que passou a vir a Portugal com mais frequência) é constantemente convidado para tocar em bailes no concelho.
O autarca diz que não gosta muito de rótulos, por isso não quer posicionar‑se num ou outro género musical específico. «Fazemos um pouco de tudo, temos músicas que vão do reggaeton à pop eletrónica ou mais românticas. A verdade é que temos desde adolescentes a pessoas de setenta anos nos espetáculos. É música para todos. »