Glúten: a quem é que faz mal?

Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografia de Shutterstock

O glúten tem classificação científica como convém. Define-se desta forma mais técnica: é um conjunto de proteínas insolúveis em água e que está presente no trigo, no centeio e na cevada. Faz bem? Faz mal? Depende do organismo.

Não há evidências científicas que demonstrem preto no branco que uma dieta isenta de glúten tenha benefícios para a população e não há provas que a sua ausência na alimentação diminua os quilos na balança. Há mais alimentos sem glúten à disposição dos consumidores, é certo, mas alguns são caros para a maioria dos bolsos.

Existe em vários alimentos. Pão, massas, bolachas, bolos, cerveja, pizas, molho bechamel têm glúten. Delícias do mar, processados de carne como salsichas, rolos de carne, e almôndegas também. Por doença, intolerância ou por livre vontade, há cada vez mais gente a aboli-lo da alimentação.

Nem todos os organismos se dão bem com o glúten. A doença celíaca é uma doença autoimune, crónica, provocada pela sua ingestão por quem é geneticamente suscetível, e que provoca lesões na mucosa intestinal.

O glúten entra no organismo e o corpo dá sinais de alarme. «Há uma reação imunológica para combater o glúten, anticorpos que vão atacá-lo», explica Rita Jorge, nutricionista da Associação Portuguesa de Celíacos. As vilosidades intestinais ressentem-se, ficam achatadas, e a mucosa inflamada. «E há uma diminuição na absorção de nutrientes», acrescenta. Daí os problemas gastrointestinais, mas há também sintomas mais atípicos, e que nem sempre são relacionados com o glúten, como anemia, osteoporose, dermatite, alterações na função da tiroide, infertilidade.

Anemia, osteoporose, dermatite, alterações na função da tiroide, infertilidade são alguns dos sintomas mais atípicos dos celíacos.

«Globalmente, a prevalência de doenças associadas ao glúten como, por exemplo, a doença celíaca e a sensibilidade ao glúten não celíaca é estimada em 5%, para as quais a terapêutica inclui a adoção de uma dieta isenta deste conjunto de proteínas. Por outro lado, a sensibilidade ao glúten não celíaca, descrita também como hipersensibilidade ou intolerância, é caracterizada por sintomas gastrointestinais (flatulência, diarreia, náuseas, dor abdominal) ou extraintestinais (fadiga, cefaleias, tonturas, ataxia, anemia) associados a ingestão de glúten, que melhoram ou desaparecem horas ou dias após a sua exclusão da dieta», adianta Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas.

O autodiagnóstico de doenças associadas ao glúten é frequente e o número de consumidores que adotam uma dieta livre de glúten está a aumentar, independentemente da presença ou não de uma doença diagnosticada associada a este. «No entanto, até agora não existe evidência científica dos benefícios para a saúde deste tipo de dieta para a população em geral», refere Alexandra Bento.

«A eliminação do glúten da dieta também tem sido praticada com o objetivo da perda de peso, principalmente publicitada por figuras públicas, no entanto, mais uma vez não existem estudos que comprovem o seu efeito na perda de peso em indivíduos sem doenças associadas ao glúten», acrescenta.

Até porque, lembra a bastonária, os alimentos sem glúten não têm necessariamente um menor valor energético, podem mesmo apresentar valores mais elevados devido a adição de outros ingredientes, como a gordura e o açúcar. E o preço pode disparar. «Os produtos alimentares sem glúten podem ser cerca de 76% a 512% mais caros do que o mesmo tipo de produto alimentar com glúten.»

«Não existem estudos publicados que comprovem o efeito de uma dieta isenta de glúten na perda de peso em indivíduos sem doenças associadas a este», diz Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas.

Seja como for, uma dieta sem glúten é indicada no tratamento de doenças associadas ao glúten, mas é fundamental um correto diagnóstico. «A adoção de uma dieta sem glúten, por razões clínicas ou de estilo de vida, deve ser orientada por um nutricionista de forma satisfazer as necessidades nutricionais inerente ao bom funcionamento do organismo», refere Alexandra Bento.

Rita Jorge avisa que, nestes casos, é necessário alguns cuidados. Ler bem os rótulos dos alimentos, retirar todos os alimentos que tenham glúten das refeições e substituí-los pelos seus equivalentes. O arroz, a batata, a linhaça, o grão-de-bico, as amêndoas e as castanhas, não têm glúten e são bons substitutos.