O final de agosto de 2005 ficou na história dos Estados Unidos. Katrina de seu nome, furacão de grau 3, causou milhares de milhões de dólares em prejuízos e perto de duas mil mortes. Pelo mundo, passaram imagens de centenas de norte-americanos, nos arredores de Nova Orleães, cercados por água, presos durante dias em telhados de casas destruídas.
De todo o lado saíram críticas à incapacidade do país mais poderoso do planeta em socorrer os seus. E sobre George W. Bush foram disparadas todas as acusações. Fizeram-se campanhas de solidariedade, caras conhecidas a protestaram pela falta de apoio, juraram-se revoluções. Nada de relevante mudou.
Em 2005, as alterações climáticas não passavam de pesadelo de ecologistas, pouco mais eram que preocupação para meia dúzia e a maioria reclamava estudos científicos que colocassem em papel o que os olhos, dos acordados pelo menos, já viam – o clima estava a mudar. Passaram mais de dez anos. As cheias e as tempestades aumentaram, os fogos saíram de controlo e, por cá, a revelação chegou com estrondo.
E não é que chegamos a outubro com temperaturas acima dos 30.º? Querem ver que já não podemos confiar no calendário com que os nossos pais e avós geriam a mudança da roupa de verão para a de inverno?
Após o Katrina, entre as vozes que se fizeram ouvir apareceu Chris Cornell, então à frente dos Audioslave. Para Revelations, o terceiro disco da banda, gravaram Wide Awake, dedicada a Bush e à fraca resposta do governo à tragédia. «Considero-te culpado do crime de dormires numa altura em que devias estar bem acordado», cantou. As semelhanças com o que por cá se passou não são pura coincidência.
É verdade que os fogos chegaram fora de época. Que em país pobre nunca os meios chegam para as grandes tragédias. Que os problemas da nossa floresta têm sido carinhosamente cultivados – tanto por PS como PSD – e que a responsabilidade está longe de ser exclusivo das atuais chefias.
Governo, Proteção Civil e forças de segurança, todos falharam. Porque não souberam reagir, nem quando os loucos dos ecologistas avisaram, nem depois do aviso que recebemos há quatro meses em Pedrógão Grande, nem mesmo quando olharam para os termómetros.
Cornell tinha razão: dormir na altura errada é crime.
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AUDIOSLAVE
Revelations
8 euros
CRÍTICA
BECK
TAMBÉM TU, BECK?
A frase é normalmente atribuída a Stan Lee, o pai do Homem-Aranha, e a ser verdade o novo disco de Beck tem de levar nota negativa. Não porque seja malfeito ou porque lhe falte bom gosto, mas porque se «com grande poder chega grande responsabilidade», Beck falhou – e falhou como nunca tinha falhado em 25 anos de carreira. Colors é pop e muito abaixo da que já o ouvimos fazer. Um conselho? Deixar a pop do mainstream para quem não sabe fazer nem mais nem melhor.
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BECK
Colors
16,99 euros
LIAM GALLAGHER
A IDADE NÃO TE FEZ MAL. NADA MAL
Envelhecer não é fácil. Muito menos o é para estrelas de rock. Uns cedem a tentações comerciais que desfazem o coração aos fãs devotos, outros desaparecem às primeiras rugas, Gallagher nunca desapareceu, mas só agora – passados dez anos do último disco dos Oasis se estreia a solo. As You Were mata-nos as saudades da banda que não sobreviveu ao feitio dos irmãos que a lideravam. Uma pena, o feitio e o destino da banda.
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LIAM GALLAGHER
As You Were
14,99 euros