Texto de Sara Dias Oliveira | Fotografia de Shutterstock
Se ele não bate, não há vida. O que andamos a fazer de mal ao nosso coração? O que devemos evitar? Quais os sintomas a que convém estar atento? É preciso não esquecer que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal. E controlar os fatores de risco para o coração significa, em parte, fazer alterações ao estilo de vida. Nestas coisas do coração, prevenir é muito importante.
Severo Torres, diretor de Cardiologia do Centro Hospitalar do Porto e professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), faz questão de lembrar alguns números que dão que pensar. «Mais de metade da população adulta portuguesa tem excesso de peso e não pratica exercício físico regular, cerca de 40% têm hipertensão arterial, 30% têm colesterol elevado, aproximadamente 20% são fumadores e cerca de um milhão são diabéticos.»
O que é que isto tem a ver com o coração? Tudo. «Quanto maior for o número destes fatores de risco no mesmo indivíduo maior será o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, razão pela qual devem ser combatidos no seu conjunto», explica o médico.
O que fazer então? «Não fumar, evitar o stress excessivo, combater o sedentarismo e o excesso de peso, reduzir na alimentação o consumo de sal, açúcar, gorduras, refrigerantes e bebidas alcoólicas, controlar a pressão arterial e vigiar conforme recomendação médica os níveis sanguíneos de açúcar e colesterol.»
O stress emocional agudo provoca a libertação para a corrente sanguínea de substâncias que levam a um aumento do ritmo cardíaco e da pressão arterial, que podem desencadear arritmias e crises hipertensivas e contribuírem também para a ocorrência de acidentes vasculares
Os sustos acontecem e há sintomas que devem ser campainhas a soar na cabeça, motivos de alerta que podem estar relacionados com a doença cardíaca. Há sinais que não podem ser ignorados. Dor torácica ou sensação de aperto ou pressão sobre a região do tórax, sensação de dificuldade respiratória, tosse seca, alteração do ritmo dos batimentos cardíacos, fadiga inexplicável, tonturas ou desmaio. «Tais sintomas podem ocorrer isolados ou em associação. Nestes casos deve procurar-se assistência médica o mais rapidamente possível», avisa o médico.
Até pode parecer que não, que não há aqui ligações, mas tudo passa pelo coração. E o stress é um inimigo. «O stress emocional agudo provoca a libertação para a corrente sanguínea de substâncias que levam a um aumento do ritmo cardíaco e da pressão arterial, que podem desencadear arritmias e crises hipertensivas e contribuírem também para a ocorrência de acidentes vasculares», adianta Severo Torres. E até há maneiras de controlar a ansiedade e o stress diário sem precisar de comprimidos. «O exercício físico e outras atividades de lazer, como a leitura ou a jardinagem, tem um efeito muito positivo.»
Fumar faz muito mal ao coração. Todos sabem. Severo Torres diz o que pode acontecer quando há cigarros na boca. «O tabagismo contribui para uma menor elasticidade das paredes das artérias, promovendo a aterosclerose e a progressiva obstrução vascular, que poderá ter como consequência um acidente vascular cerebral ou um enfarte do miocárdio». Se há terapêutica médica prescrita para controlar fatores de risco ou para tratar uma doença cardiovascular instalada, então é preciso cumprir à risca o que o médico indicou. É fundamental para reduzir o risco de complicações que podem aparecer com tomas irregulares ou com a suspensão da medicação sem orientação médica.
Quilos a mais na balança não são nada aconselháveis para uma boa saúde do coração, são rastilhos que desencadeiam fatores de risco como a hipertensão arterial, a diabetes, o colesterol elevado. Toda a gente sabe que estes fatores devem ser banidos, mas a verdade é que são pouco combatidos no dia-a-dia. «O consumo excessivo de sal, açúcar e gorduras, o baixo consumo de legumes e fruta, o recurso exagerado a bebidas açucaradas e bebidas alcoólicas, bem como o recurso a refeições pré-cozinhadas, são os fatores que mais contribuem para o excesso de peso e a obesidade», afirma Severo Torres.
A frequente atividade física de fim de semana, em particular se praticada de forma muito intensa, sem treino durante a semana e sem terem sido avaliadas previamente as condições básicas de saúde, podem precipitar complicações cardiovasculares
Praticar exercício físico de forma regular é altamente recomendável para o coração se sentir bem. Reduz o peso, alivia o stress emocional, ajuda a contrariar a vontade de fumar, controla a pressão arterial, a diabetes e o colesterol. Mas também aqui há regras a cumprir para que o exercício funcione como deve ser. «Para que os indiscutíveis benefícios do exercício físico sejam atingidos, recomenda-se que seja praticado com regras, por exemplo, caminhar ou andar de bicicleta com intensidade moderada, 30-60 minutos por dia, pelo menos cinco dias por semana, de acordo com as condições físicas e de saúde individuais». Não pode fazer exercício à toa. «A frequente atividade física de fim de semana, em particular se praticada de forma muito intensa, sem treino durante a semana e sem terem sido avaliadas previamente as condições básicas de saúde, podem precipitar complicações cardiovasculares, destacando-se pela sua potencial gravidade, as arritmias cardíacas e o enfarte do miocárdio», afirma o diretor de Cardiologia do Centro Hospitalar do Porto.
O que é essencial saber, pela saúde do seu coração:
- Fatores de risco para o coração: fumar, stress excessivo, sedentarismo, excesso de peso, consumo de sal, açúcar, gorduras, refrigerantes e bebidas alcoólicas.
- Sintomas de que alguma coisa não está bem: dor torácica ou a sensação de aperto ou pressão sobre a região do tórax, sensação de dificuldade respiratória, tosse seca, alteração do ritmo dos batimentos cardíacos, fadiga inexplicável, tonturas ou desmaio.
- Fumar retira elasticidade às paredes das artérias, promovendo a aterosclerose e a progressiva obstrução vascular, o que poderá provocar um acidente vascular cerebral ou um enfarte do miocárdio.
- Para controlar fatores de risco ou tratar uma doença cardiovascular é essencial cumprir à risca o que o médico indicou. É uma forma de reduzir o risco de complicações.
- Praticar exercício físico regularmente é altamente recomendável para o coração. Reduz o peso, alivia o stress emocional, ajuda a contrariar a vontade de fumar, controla a pressão arterial, a diabetes e o colesterol.