Texto de Marcelo Teixeira | Fotografia de Shutterstock
«As pessoas mais facilmente tomam comprimidos de oito em oito horas do que vão para a rua andar», diz Maria João Quintela, geriatra e vice-presidente do 38º Congresso Português de Geriatria e Gerontologia, a realizar em Lisboa nos dias 22, 23 e 24 de novembro, no Centro Ismaili, e distinguida, em 2016, com o Prémio Femina de Notáveis Mulheres Portuguesas e da Lusofonia na área de Literatura Científica.
«A Organização Mundial de Saúde aconselha a que os idosos caminhem todos os dias durante 30 minutos, mesmo que seja de forma tripartida», reforça, dizendo, no entanto, que os melhores antídotos para as patologias da idade, na sua opinião são «o constante estímulo, continuar a ter interesses e manter a atividade intelectual», sem jamais renunciar «ao contacto humano e ao gosto pela vida».
O Instituto Nacional de Estatística estima que até 2080, a esperança média de vida atinja os 90 anos no nosso país.
O envelhecimento é uma questão cada vez mais central nas sociedades ocidentais, devido à evolução da ciência que aumentou a esperança média de vida.
Só em Portugal, de acordo com o estudo Global Burden of Disease 2016, publicado na revista britânica The Lancet, esta era de 83,9 anos para as mulheres e de 77,7 anos para os homens, em 2015, ultrapassando a global (obtida entre todos os países analisados), que era de 75,3 anos para o sexo feminino e de 69,8 anos para o sexo masculino. O Instituto Nacional de Estatística vai ainda mais longe ao estimar que até 2080, a esperança média de vida atinja os 90 anos no nosso país.
Razões mais do que suficientes para pensar em estratégias não só sociais, mas também individuais para dar resposta a este fenómeno.
O avanço para a chamada terceira idade implica um processo de envelhecimento do corpo, que vai ficando mais suscetível ao aparecimento de doenças. Há pois, de acordo com os especialistas, que apostar em medidas de prevenção e reabilitação.
Maria João Quintela garante que essa consciência é cada vez maior entre os mais velhos. «As pessoas de terceira idade têm hoje mais acesso à informação do que é o envelhecimento ativo e tentam cumpri-lo. Percebem que a sua saúde e a dos outros está nas mãos de cada um». Sem escamotear nenhum dos aspetos a ter em conta, salienta que «a alimentação é tão importante como os laços de amizade».
Exercitar o corpo, assim como exercitar o cérebro é meio caminho andado para um envelhecimento com mais saúde e qualidade de vida.
Pedro Macedo é especialista em psicogeriatria, trabalha na área do envelhecimento há mais de 20 anos e confirma-o. «Quando há vulnerabilidade ou alguma patologia mental, a solução passa muitas vezes pela atividade física», mas, chama a atenção, esta deve ser feita à medida de cada paciente e das suas características e vulnerabilidades».
«É essencial que o corpo não pare. Não só para combater a perda de mobilidade e de massa muscular, mas para ganhar confiança e autoestima»
João Igreja é personal trainer e passou metade da sua vida a dar treinos. Tem 51 anos e aos 26 já ensinava aeróbica, pilates e musculação. Sobre a importância da atividade física nos mais velhos, é categórico: «é essencial que o corpo não pare. Não só para combater a perda de mobilidade e de massa muscular, mas para ganhar confiança e autoestima determinantes na qualidade de vida do idoso». «A boa circulação do sangue ajuda a prevenir quase todo o tipo de doenças que perturbam as pessoas de terceira idade», acrescenta. E o exercício físico é essencial para isso.
Também o personal trainer tem ideia de que os idosos estão melhor informados sobre como aumentar a qualidade de vida e que muitos não desperdiçam esses conselhos. «A desmistificação dos ginásios por parte dos médicos também tem sido importante nesta matéria. O que já foi tabu é hoje prescrito como receita para algumas patologias».
Depois de tantos anos a acompanhar a evolução dos seus clientes, João realça um aspeto: «mais do que trabalhar pelo reforço da massa muscular, os mais velhos têm que fazer treino cardio, desentupir artérias, baixar os níveis dos diabetes, entre outros que beneficiam o seu estado clínico».
Alerta ainda para o «sedentarismo que o mundo digital traz, mas em contraste até as ruas de algumas cidades estão já equipadas com máquinas de manutenção». Sobre o treino em si, incita os seniores «a treinos funcionais, treinar com o peso do corpo, fazer planos cardiorrespiratórios, utilizar máquinas estabilizadoras e evitar qualquer tipo de peso livre e cargas elevadas».