Texto de Cláudia Pinto | Fotografia de João Manuel Ribeiro/Global Imagens
O Tomé é um cão pequenino, simpático e interativo. À primeira vista parece um cão vulgar, mas a presença deste ratonero bodeguero andaluz pode mudar o dia de muita gente. Como os 45 seniores que vivem ou passam algumas horas no Centro de Apoio à Terceira Idade (CATI) de São Mamede de Infesta. À chegada, o cão terapeuta passa de colo em colo, interage com os idosos que lhe oferecem biscoitos. Mas pouco tempo depois começa a animação…
A iniciativa semanal, promovida pela associação portuense sem fins lucrativos CAOVIDA Club, passa por promover o exercício físico assistido por cães.
A iniciativa semanal, promovida pela associação portuense sem fins lucrativos CAOVIDA Club, passa por promover o exercício físico assistido por cães. Todas as quartas-feiras de manhã, o Tomé é recebido com entusiasmo. E até há quem já fique a contar os dias até ao próximo treino. Com ele, Luís Santos, professor de Educação Física, e João Topete, treinador de cães, desenvolvem alguns exercícios adaptados a um grupo heterogéneo de seniores, tendo em conta as suas doenças e/ou limitações.
Nem mesmo o facto de se estar numa cadeira de rodas é impeditivo. «Nesses casos, trabalha-se a parte superior do corpo», diz Mariana Teixeira, gestora operacional e psicóloga da CAOVIDA. A associação comemorou quatro anos em março passado e foi fundada por Jorge Pinto Ferreira, que se inspirou na sua história pessoal para dar corpo ao projeto.
Ao ver-se confrontado com a falta de soluções integradas para o tratamento da pré-obesidade infantil da filha, Carolina (à data, com 6 anos), comprou um cão (o Sebastião) e juntamente com outros técnicos e profissionais (nutricionista e psicólogo, por exemplo) ajudou-a a atingir um peso considerado saudável. Estava dado o mote para a criação de um projeto inovador que pudesse ajudar outras famílias com o mesmo problema. Apesar de, na sua génese, a associação destinar-se ao apoio de crianças com obesidade e respetivas famílias, rapidamente foi alargada a outros públicos-alvo – como os seniores.
Surgiu então a necessidade de promover um envelhecimento ativo, contando com o cão como facilitador e motivador de todo o processo, e realizaram-se as primeiras experiências num lar da Maia. «Os cães não julgam e são de uma lealdade extrema. Para muitos idosos, certos movimentos representam enormes desafios, e, na presença de tal elemento de motivação, quando dão por ela, já são capazes de os fazer. Além dos benefícios físicos, há inúmeras vantagens ao nível de saúde mental e de bem-estar, devidamente comprovadas cientificamente», explica o fundador.
A primeira experiência correu bem e foi alargada, há cerca de um mês, ao CATI de São Mamede de Infesta, após a atribuição de uma menção honrosa no Prémio BPI Seniores 2016, em novembro do ano passado.
Os 14 mil euros que receberam com o apoio foram «a alavanca perfeita para a necessidade que tínhamos de alargar a metodologia aos seniores», diz Mariana Teixeira. «O dinheiro está a ser aplicado em recursos humanos, nas deslocações e no transporte, nos seguros, tanto dos treinadores como dos cães, no apoio para o treino de um novo cão terapeuta, no material desportivo para as sessões, entre outros.»
A evolução da capacidade física de cada sénior está a ser devidamente monitorizada por uma bateria de testes específica, adaptada pela equipa da instituição. Até à data, o feedback dos participantes não poderia ser mais positivo, asseguram os responsáveis. «O contacto com o animal estimula a realização de determinados movimentos que, se fossem pedidos de forma isolada sem o acompanhamento do cão, poderiam ser mais difíceis ou realizados com o foco no esforço. O cão desbloqueia isso», avalia Luís Santos.
Além dos benefícios físicos, o professor assinala a boa disposição e «o ambiente emocional positivo que a presença do Tomé fomenta». Por outro lado, é frequente que a presença do cão leve ao resgate de memórias. «Alguns seniores tiveram animais de estimação e partilham as suas lembranças uns com os outros, o que também promove a socialização e a interação entre todos», sublinha o professor.
O desafio seguinte passa por replicar o projeto a outros lares e instituições de apoio a seniores do Porto. «Além disso, gostaríamos de desenvolver outras atividades e envolver um total de 200 a 300 pessoas», conclui a psicóloga.
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