
Texto Catarina Guerreiro
«A astronomia é uma ciência, a astrologia é uma crendice», começa por dizer André Moitinho de Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia, explicando que os astrónomos baseiam a sua atividade em métodos científicos, estando sempre a questionar tudo para validar as descobertas, enquanto os astrólogos acreditam nas teorias de antepassados, sem duvidar.

Para a astróloga Isabel Guimarães, que lidera a Associação Portuguesa de Astrologia, o importante não é o rótulo de ciência. «É indiferente se consideram que a astrologia é ou não uma ciência. A astrologia está comprovada, até pela história, e isso é que interessa.»
Para o astrofísico, a ideia de que os planetas interferem no comportamento e caraterísticas das pessoas ou influenciam o seu destino «não faz qualquer sentido», enquanto para a astróloga essa influência é real.
«E esse alegado estudo foi feito como?», questiona André Moitinho de Almeida. «Não basta uma pessoa dizer que há certeza para se validar. Tem de ser um estudo rigoroso e seguir os métodos científicos e isso não existe.» Isabel Guimarães tem noção de que os astrónomos não gostam das ideias dela e dos colegas. Umas vezes, diz, é por falta de conhecimento, outras, acredita, tem que ver com a falta de regulamentação no país, que abre campo a aldrabões que se dizem astrólogos e prometem adivinhar o futuro. «Nós não fazemos adivinhação, apenas previsões, como sucede com os meteorologistas ou com as estatísticas económicas».
A verdade é que, em tempos, a astrologia e astronomia eram só uma. Antes olhava-se para o céu e todos tentavam perceber o que se passava.
André Moitinho de Almeida prefere fazer outra comparação e afirma que a astrologia está para a astronomia como a alquimia está para a medicina. A verdade é que, em tempos, as duas eram só uma. Dantes olhava-se para o céu e todos tentavam perceber o que se passava. «As pessoas julgavam que um cometa era mau presságio, por exemplo», recorda. Depois, no século XVI, as duas separaram-se e hoje analisam aspetos totalmente diferentes. «A nossa base foi a astronomia. Eles estudam o que está nos céus. Nós, astrólogos, analisamos a correlação dos planetas com os 12 signos que se encontram numa faixa fixa com trinta graus à volta da Terra e as mudanças que provocam», explica Isabel.
André insiste porém que, para si, a diferença é outra: a astrologia «é uma crendice». E garante que, se houvesse alguma evidência de que os planetas interferem no comportamento e na vida das pessoas, os astrónomos estariam a estudar o fenómeno. Respondendo a este ceticismo, Isabel Guimarães refere que a história mostra que tudo tem influência no ser humano, nomeadamente o clima. «Uma das bases da astrologia são exatamente as estações do ano.»
O astrónomo aceita que «o tempo meteorológico possa ter efeito sobre o humor», mas «daí a dizer que determinam a nossa personalidade, é algo que teria de ser estudado». As únicas interferências dos planetas que chegam à Terra, garante, são a luz, a gravidade, os neutrinos e os raios cósmicos. «E chegam tão fracos que não têm efeito nenhum, a não ser poderem ser apreciados.» Para os astrólogos, os planetas transportam até à Terra muito mais do que isso. «Para nós, trazem mensagens de prevenção, de orientação», defende Isabel Guimarães.
Com tanta diferença, há alguma coisa em comum entre astrónomos e astrólogos? André Moitinho de Almeida pensou e lá descobriu: «Somos ambos fascinados pelo céu.»